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As persianas arrombadas
O casal McCann, nos seus primeiros telefonas para a família, na madrugada de 4 de Maio, no Reino Unido, refere expressamente o facto de as persianas do quarto de Madeleine McCann terem sido “forçadas” ou “arrombadas”. Esses familiares transmitem a informação a praticamente todos os órgãos de Comunicação Social britânicos.
Mas no dia 4 de Maio, nas suas edições online, praticamente todos os jornais britânicos referem também as declarações de John Hill, o gerente do Ocean Club e uma das primeiras pessoas a chegar ao apartamento, depois de ter sido dado o alerta do desaparecimento de Maddie. John Hill disse aos jornalistas que ele próprio verificou que as persianas não tinham sido arrombadas nem forçadas. O “Sunday Mirror”, a 5 de Maio cita responsáveis da empresa Mark Warner, proprietária do resort, que “negam que houvesse sinais de entrada forçada no apartamento, afirmando, em vez disso, que as persianas tinham sido puxadas para cima e a janela do quarto aberta”. Alguns Media britânicos referem as duas versões, nesse dia e no dia seguinte. A partir daí, apenas é reproduzida a versão de Gerry e Kate McCann. O desmentido do gerente do Ocean Club é ignorado. Curiosamente, John Hill “desaparece” e não volta a falar aos jornalistas. Il ou MW a compris qu'en démentant, il renforçait la rumeur.
Kate McCann é citada, por todos os media britânicos, logo no dia 4 de Maio (nas edições online), através de declarações feitas pela sua cunhada, Philomena McCann, que diz aos jornais e a Sky News queKate lhe telefonou, na madrugada GMC au milieu de la nuit de 3/4 de Maio, a dar a notícia do desaparecimento de Maddie e a referir o pormenor de as persianas terem sido arrombadas. Um
amigo da família, Jon Corner, padrinho da Amélie, é citado pela edição
online do “The Times”, no dia 5 de Maio, afirmando que “Kate disse que
as persianas tinham sido rebentadas e Madeleine tinha desaparecido”. Gerry
McCann, por sua vez, é citado, no “The Guardian”, também no dia 5, como
tendo dito, ao telefone, a Brian Healy, avô materno de Madeleine, que
“quando regressaram ao apartamento [vindos de um restaurante próximo] as
persianas do quarto estavam partidas, tinham sido forçadas para cima e
ela tinha desaparecido (…) Ela foi levada do 'chalet”. acrescentou o avô de Madeleine, de acordo o mesmo jornal.
O “Daily Mail” de 13 de Maio cita declarações de um inspector da polícia britânica, Albert Kirby, responsável pela investigação do caso de James Bulger, uma criança de 2 anos raptada e assassinada por duas outras crianças de dez anos de idade que, por sua vez, cita uma conversa com Olegário de Sousa, que lhe garantiu que “nem a janela nem as persianas tinham sido forçadas”. De acordo com aquele polícia inglês, “o mecanismo [das persianas] torna quase impossível que elas sejam abertas do exterior”, como referia a primeira versão de Kate e Gerry McCann. Albert Kirby refere, pela primeira vez nos media britânicos, a alteração das declarações dos McCann que, perante os testemunhos contrários sobre o alegado arrombamento das persianas, passaram a admitir que o raptor poderia ter entrado pela porta das traseiras do apartamento, que tinha sido deixada aberta.
Em Outubro de 2007 esta alteração é “formalizada” pelo porta-voz dos McCann, Clarence Mitchell, em entrevista à RTE, a televisão irlandesa, no dia 24, onde este admite que “não havia qualquer sinal de arrombamento” no apartamento A5 do Ocean Club.
Ce qui est intéressant, c'est que cette admission fait suite aux paroles des experts dans le documentaire de Cutting Edge, Channel 4. Plus aucune échappatoire n'était possible.
O jornal irlandês “Irish Independent”, na sua edição online de 25 de Outubro é dos raros órgãos de Comunicação Social britânico que salienta a alteração da versão inicial dos McCann, que passam da história das persianas arrombadas para a hipótese de o alegado raptor ter entrado pela porta das traseiras, destrancada. O jornal destaca o facto de “no início das buscas [por MadeleineMcCann] amigos e familiares [do casal] terem dito aos jornalistas que as persianas da janela do apartamento onde os McCann estavam a residir tinham sido arrombadas”. Ce sont les proches qui ont alerté les médias au très petit matin du 4 mai.
A verdade é que, entre Maio e Outubro de 2007 – e mesmo depois disso - continuam a surgir referências, nos media britânicos, às persianas forçadas, sem que os relatos opostos de John Hill e de Olegário de Sousa, que em Junho, num encontro com jornalistas, le 17 juin (la scène de crime a été polluée avant l'arrivée de la police. Gerald MC lui-même a déclaré avoir expérimenté l'ouverture du volet de l'extérieur) tornou pública a versão formal da PJ, sejam mencionados.
Gerry e Kate sozinhos à procura de Madeleine
Poucas horas depois dos primeiros telefonemas a familiares, a darem conta do desaparecimento da filha e do falso pormenor das persianas arrombadas, Kate McCann faz novos contactos, queixando-se amargamente de ter andado com o marido, praticamente sozinhos, à procura da filha, madrugada a dentro, pelas ruas em redor do Ocean Club. Jill Renwick, amiga de Kate, residente em Inglaterra, é citada pelo “The Sun”, no dia 5 de Maio de 2007, afirmando que Kate McCann lhe disse, por telefone, na manhã do dia 4 de Maio, que andou a procurar a filha, sozinha, pelas ruas da Praia da Luz, até às 4h30 da manhã. The Guardian desse mesmo dia também cita Jill Renwick, que diz (segundo Kate McCann lhe teria contado) que “não estava lá ninguém, a ajudar nas buscas e que “toda a gente nos abandonou'” e ainda que “apenas estava um polícia à porta [do apartamento]”. Mas o Sunday Mirror, no dia 5 de Maio, cita a própria Kate que diz que “nunca pensou, por um segundo, sequer”, que a Madeleine tivesse saído sozinha do apartamento (…) Não me passou pela cabeça nem tive a mínima dúvida de que ela tinha sido levada”.
Estas duas declarações de Kate McCann são, no mínimo confusas. Se nem por um segundo lhe passou pela cabeça que a criança tinha saído sozinha do apartamento, porque razão andou até às quatro da manha à procura dela, nas ruas em redor do Ocean Club?
As persianas arrombadas
O casal McCann, nos seus primeiros telefonas para a família, na madrugada de 4 de Maio, no Reino Unido, refere expressamente o facto de as persianas do quarto de Madeleine McCann terem sido “forçadas” ou “arrombadas”. Esses familiares transmitem a informação a praticamente todos os órgãos de Comunicação Social britânicos.
Mas no dia 4 de Maio, nas suas edições online, praticamente todos os jornais britânicos referem também as declarações de John Hill, o gerente do Ocean Club e uma das primeiras pessoas a chegar ao apartamento, depois de ter sido dado o alerta do desaparecimento de Maddie. John Hill disse aos jornalistas que ele próprio verificou que as persianas não tinham sido arrombadas nem forçadas. O “Sunday Mirror”, a 5 de Maio cita responsáveis da empresa Mark Warner, proprietária do resort, que “negam que houvesse sinais de entrada forçada no apartamento, afirmando, em vez disso, que as persianas tinham sido puxadas para cima e a janela do quarto aberta”. Alguns Media britânicos referem as duas versões, nesse dia e no dia seguinte. A partir daí, apenas é reproduzida a versão de Gerry e Kate McCann. O desmentido do gerente do Ocean Club é ignorado. Curiosamente, John Hill “desaparece” e não volta a falar aos jornalistas. Il ou MW a compris qu'en démentant, il renforçait la rumeur.
Kate McCann é citada, por todos os media britânicos, logo no dia 4 de Maio (nas edições online), através de declarações feitas pela sua cunhada, Philomena McCann, que diz aos jornais e a Sky News que
O “Daily Mail” de 13 de Maio cita declarações de um inspector da polícia britânica, Albert Kirby, responsável pela investigação do caso de James Bulger, uma criança de 2 anos raptada e assassinada por duas outras crianças de dez anos de idade que, por sua vez, cita uma conversa com Olegário de Sousa, que lhe garantiu que “nem a janela nem as persianas tinham sido forçadas”. De acordo com aquele polícia inglês, “o mecanismo [das persianas] torna quase impossível que elas sejam abertas do exterior”, como referia a primeira versão de Kate e Gerry McCann. Albert Kirby refere, pela primeira vez nos media britânicos, a alteração das declarações dos McCann que, perante os testemunhos contrários sobre o alegado arrombamento das persianas, passaram a admitir que o raptor poderia ter entrado pela porta das traseiras do apartamento, que tinha sido deixada aberta.
Em Outubro de 2007 esta alteração é “formalizada” pelo porta-voz dos McCann, Clarence Mitchell, em entrevista à RTE, a televisão irlandesa, no dia 24, onde este admite que “não havia qualquer sinal de arrombamento” no apartamento A5 do Ocean Club.
Ce qui est intéressant, c'est que cette admission fait suite aux paroles des experts dans le documentaire de Cutting Edge, Channel 4. Plus aucune échappatoire n'était possible.
O jornal irlandês “Irish Independent”, na sua edição online de 25 de Outubro é dos raros órgãos de Comunicação Social britânico que salienta a alteração da versão inicial dos McCann, que passam da história das persianas arrombadas para a hipótese de o alegado raptor ter entrado pela porta das traseiras, destrancada. O jornal destaca o facto de “no início das buscas [por MadeleineMcCann] amigos e familiares [do casal] terem dito aos jornalistas que as persianas da janela do apartamento onde os McCann estavam a residir tinham sido arrombadas”. Ce sont les proches qui ont alerté les médias au très petit matin du 4 mai.
A verdade é que, entre Maio e Outubro de 2007 – e mesmo depois disso - continuam a surgir referências, nos media britânicos, às persianas forçadas, sem que os relatos opostos de John Hill e de Olegário de Sousa, que em Junho, num encontro com jornalistas, le 17 juin (la scène de crime a été polluée avant l'arrivée de la police. Gerald MC lui-même a déclaré avoir expérimenté l'ouverture du volet de l'extérieur) tornou pública a versão formal da PJ, sejam mencionados.
Gerry e Kate sozinhos à procura de Madeleine
Poucas horas depois dos primeiros telefonemas a familiares, a darem conta do desaparecimento da filha e do falso pormenor das persianas arrombadas, Kate McCann faz novos contactos, queixando-se amargamente de ter andado com o marido, praticamente sozinhos, à procura da filha, madrugada a dentro, pelas ruas em redor do Ocean Club. Jill Renwick, amiga de Kate, residente em Inglaterra, é citada pelo “The Sun”, no dia 5 de Maio de 2007, afirmando que Kate McCann lhe disse, por telefone, na manhã do dia 4 de Maio, que andou a procurar a filha, sozinha, pelas ruas da Praia da Luz, até às 4h30 da manhã. The Guardian desse mesmo dia também cita Jill Renwick, que diz (segundo Kate McCann lhe teria contado) que “não estava lá ninguém, a ajudar nas buscas e que “toda a gente nos abandonou'” e ainda que “apenas estava um polícia à porta [do apartamento]”. Mas o Sunday Mirror, no dia 5 de Maio, cita a própria Kate que diz que “nunca pensou, por um segundo, sequer”, que a Madeleine tivesse saído sozinha do apartamento (…) Não me passou pela cabeça nem tive a mínima dúvida de que ela tinha sido levada”.
Estas duas declarações de Kate McCann são, no mínimo confusas. Se nem por um segundo lhe passou pela cabeça que a criança tinha saído sozinha do apartamento, porque razão andou até às quatro da manha à procura dela, nas ruas em redor do Ocean Club?
No entanto a versão de uma mãe completamente abandonada é totalmente desmentida pelas declarações de John Hill, gerente do Ocean Club e uma das primeiras pessoas a chegar ao local, logo depois de ter sido dado o alarme. O gerente disse aos jornalistas, na manhã de dia 4 de Maio de 2007, que cerca de 60 pessoas, trabalhadores e hóspedes do resort, procuraram Madeleine até perto das 4h30 da madrugada: “Está aqui um responsável da PJ e cerca de 20 agentes mas infelizmente ainda não há nenhuma informação [sobre Maddie]”, como refere “The Guardian”, na sua edição online da mesma data. Segundo os relatórios do Comandante da GNR, apensos ao processo, por volta das 2h00 da madrugada de 4 de Maio, já estavam no local mais de duas dezenas de agentes da GNR NON e duas unidades de cães-pisteiros, provenientes de Portimão. Comprendre 2 handlers et 2 chiens, mais de patrouille Por roda das quatro da manhã, avant 4h o comandante territorial da GNR do Algarve já tinha telefonado para Lisboa, solicitando o envio de equipas cinotécnicas mais especializadas na busca de pessoas desaparecidas. Des chiens S&R Essas equipas partiram do seu quartel, em Queluz, pouco depois, e chegaram à Praia da Luz por volta das oito da manhã, hora a que recomeçaram as buscas.
Tal como em relação à história das persianas arrombadas, as declarações de John Hill sobre as buscas efectuadas por largas dezenas de pessoas, ainda durante a noite, são reproduzidas apenas nos dias 4 e 5. Comprendre que l'histoire du volet forcé s'est répétée au fil des jours, alors que la mention des recherches par des dizaines de personnes n'a pas fait long feu. Depois disso, desaparecem dos media britânicos, substituídas pela versão de uma mobilização escassa ou quase inexistente de meios humanos, por parte das autoridades policiais portuguesas, nas primeiras 48 horas após o desaparecimento de Madeleine McCann.
A tese do rapto por uma rede pedófila
É a segunda manobra de manipulação, directamente ligada à questão das persianas arrombadas. Essa seria, inicialmente, a única forma de um alegado raptor entrar no quarto onde Madeleine dormia. Desde o primeiro momento em que o casal se deu conta do desaparecimento, pensaram imediatamente que Maddie teria sido raptada por pedófilos, como ambos afirmaram, posteriormente em diversas entrevistas. Kate McCann disse ao “Sunday Mirror”, logo no dia 5 de Maio que “nem por um segundo pensou” que Madeleine tivesse saído sozinha do apartamento: “Eu sabia que alguém tinha estado no apartamento, devido à forma como ele tinha sido deixado. Mas eu sabia que ela não sairia nunca, de forma nenhuma. Não houve a mínima sombra de dúvida de que ela tinha sido levada.”
O “Daily Express”, no dia 9 de Maio, avança com a tese do rapto por uma rede pedófila, Cette thèse a été énoncée immédiatement par GMC no mesmo artigo onde surge pela primeira vez uma outra acusação, a ideia de que Portugal é um “paraíso para pedófilos”. Num artigo assinado por David Pilditch e Matt Drake, o jornal garante que “Madeleine foi raptada por 'encomenda” e que está “nas garras de uma rede internacional de pedófilos” - isto, apenas seis dias dias depois da criança ter desaparecido. O jornal vai mesmo ao pormenor de referir que o raptor “tem fortes ligações com o Reino Unido” e estava a “operar em Portugal devido às suas 'suaves' leis contra crimes sexuais”. “Activistas [contra crimes sexuais] alegam que a inacção dos juízes portugueses transformou o país num paraíso para pedófilos”, escreve o “Daily Express”. Les répétitions tuent ce texte. Neste artigo surgem também as primeiras referências de outras autênticas linhas de orientação da campanha contra a polícia portuguesa e Portugal, em termos gerais. Por exemplo, o facto de “a família estar furiosa com a lenta resposta da polícia, nas primeiras e cruciais horas após o desaparecimento de Maddy” ou as críticas à lei sobre o segredo de Justiça, que impedia a divulgação de pormenores sobre o caso – facto que, salientava o jornal, “estava a dificultar a investigação”. Mais tarde, a 6 de Agosto de 2007, o “The Telegraph”, por exemplo, retoma esta tese do rapto, por encomenda, da responsabilidade de uma rede pedófila. O jornal cita um email enviado pela polícia inglesa à sua congénere portuguesa, onde se referia que “uma rede de raptores de crianças baseada na Bélgica, tinha feito uma 'encomenda' de uma criança pequena”. Alguém “com ligações ao mesmo gangue teria deparado com Madeleine McCann e tirado uma fotografia da criança, foto que “foi enviada para a a Bélgica, onde a rede pedófila deu a sua concordância para o rapto”.A própria Kate McCann, no livro escreveu sobre a flha desaparecida, publicado em 2011, revela que, logo que se apercebeu de que a criança não estava no apartamento, ambos – ela e o marido, Gerry – admitiram imediatamente essa hipótese: “Pedófilos, era a única coisa em que conseguíamos pensar”, escreveu Kate.
Para reforçar a tese do rapto por uma rede pedófila En quoi ?, Gerry McCann avança, inclusive, com a hipótese de, na sua
On passe du coq à l'âne
Em Novembro de 2018, quando a própria polícia britânica, na sua re-investigação do caso, a chamada “Operação Grange”, passa a admitir, como hipótese provável, que Madeleine tivesse acordado, saído do apartamento e sido atropelada por um condutor alcoolizado que a seguir teria escondido o corpo, a reacção dos McCann é bastante agressiva. “The Sun”, na sua edição de 27 de Novembro de 2018, cita “um amigo da família” que afirma que “Kate e Gerry sempre insistiram que a sua filha foi raptada e não saiu simplesmente [do apartamento] (…) Sugerir isso é quase ridículo. [No apartamento] havia pesadas persianas que era impossível serem abertas por uma criança”. No mesmo artigo é citada uma passagem do livro de Kate McCann, sobre Madeleine, publicado em 2011, onde esta escreveu que “sempre achou essa sugestão [de a criança ter saído sózinha do apartamento] um insulto à nossa inteligência. Obviamente que a polícia tem que considerar todos os cenários mas não há nenhuma dúvida, para nós, que Madeleine não deixou o apartamento por sua vontade”. Il faudrait ici rappeler les paroles de Kate, rapportées par son amie Fiona dans le rog de 2008 (ce n'est donc pas une révélation) : elle avait laissé ouverte la porte du patio pour que Madeleine puisse aller à sa recherche, au cas où elle se réveillerait comme la veille.
Portugal, um "paraíso para pedófilos"
Logo no dia 8 de Maio surge o primeiro artigo, no “Sun”, onde o jornal refere que “Portugal se orgulha de não ter um problema de pedofilia e nem sequer tem uma unidade especial de polícia dedicada apenas a este tipo de crimes. Mas uma investigação de 'The Sun' descobriu que aquela zona mediterrânica tem um historial de crimes sexuais contra crianças – muitos cometidos por pervertidos britânicos que para ali fugiram, acreditando que estariam mais à vontade para levar a cabo as suas práticas vis”. O mesmo jornal volta à carga, no dia 10 de Maio, escrevendo que o Algarve é um paraíso para pedófilos ingleses, porque Portugal não tem um registo de criminosos responsáveis por abuso sexual de crianças e, como tal, eles não são alvo de qualquer vigilância especial por parte da polícia portuguesa. O artigo não cita factos nem um único caso concreto de um pedófilo inglês localizado no Algarve, mas tem como título “O Algarve, um paraíso de pedófilos”. Naquela região turística viveriam “pelo menos 130 pedófilos”, escreve “The Sun”, afirmando que estes dados teriam sido obtidos junto da polícia britânica que, de acordo com a legislação local, tem que ser informada sempre que um criminoso registado na sua base de dados de crimes sexuais viaja para o estrangeiro. Um pormenor curioso, neste mesmo artigo, é a afirmação de que “Portugal foi abalado por escândalos devido à descoberta de várias redes pedófilas, em anos recentes”. No entanto, aquele periódico não identifica um único caso concreto dessas redes pedófilas, alegadamente descobertas nos anos anteriores ao desaparecimento de Madeleine McCann.
A manipulação e distorção da realidade vai ao ponto de o jornal “ThisIsLondon” citar um grupo de especialistas e ex-polícias britânicos, a 18 de Outubro de 2007, que afirmam que “em Portugal, quando se descobrem casos de abusos de crianças, essas crianças são institucionalizadas enquanto os abusadores são frequentemente deixados em liberdade”. O tal grupo de especialistas, liderado por um ex-polícia britânico, Chris Stevenson, não adianta quaisquer factos concretos ou dados estatísticos nos quais esta afirmação se baseasse. Ce sont les experts du Cutting Edge (Channel 4).
Kate McCann, já em 2011, no livro intitulado “Madeleine”, acusa a polícia portuguesa de ter “escondido” a existência de uma série de casos de abusos sexuais de crianças, no Algarve. Um artigo de “The Telegraph”, publicado a 7 de Maio de 2011, cita o próprio cônsul britânico no Algarve, Bill Henderson, como tendo alertado os pais de Maddie para a existência de um “alarmante número de casos [de abusos sexuais de crianças] na região.” Le journal ne fait que citer "Madeleine". De acordo com o jornal, quando o dossier do caso foi distribuído aos jornalistas, os McCann teriam descoberto referências a cinco casos de crianças britânicas sexualmente abusadas, nos seus quartos de hotel, enquanto os pais dormiam no quarto ao lado. Kate McCann aproveita Non, c'est elle qui a lancé l'idée e escreve, no seu livro, que ficou com o “coração partido” ao ler os “terríveis relatos desses pais devastados” e acusa a polícia portuguesa de ter “varrido esses crimes para debaixo do tapete”.
O ponto mais alto desta campanha para retratar Portugal como um país onde as redes pedófilas actuam com total impunidade surge a 20 de Outubro de 2007, no “Daily Mail”, num artigo com o título “Porque é que Portugal é um paraíso para pedófilos”, assinado por Andrew Malone e Vanessa Allen. Baseado apenas no caso Casa Pia, o artigo refere a existência de um “círculo mágico” ligado aos meios políticos portugueses, envolvido também em redes pedófilas internacionais e vai ao ponto de afirmar que o caso “poderá eclipsar” o escândalo do caso Dutroux, na Bélgica. A ligação com o desaparecimento de Madeleine McCann é feita quando se afirma que o episódio da Casa Pia “prova aquilo que agências que combatem o crime internacional há muito suspeitavam: Portugal transformou-se num íman para predadores pedófilos de todo o mundo, que se aproveitam da sua legislação 'suave' para atacar o grande número de crianças pobres e abadonadas, ali [em Portugal] existentes”. Neste contexto, os McCann “terão poucas hipóteses de que lhes seja feita justiça, quando personalidades de destaque estão alegadamente envolvidas numa tentativa de encobrimento do seu próprio escândalo sexual”, escreve o “Daily Mail”. “Ambos os casos” - o escândalo da Casa Pia e o desaparecimento de Maddie – estão afectados por “alegações de agentes policiais comprometidos, interferências do mais alto nível e violentos e viciosos ataques contra as testemunhas”.
Pedro Namora RÉF DATE dá uma ajuda preciosa ao “Daily Mail”, com declarações que confirmam a tese dos media britânicos sobre o facto de Portugal ser um “paraíso de pedófilos”. O ex-aluno da Casa Pia alega que, no escândalo que atingiu aquela instituição, “se todos os nomes viessem a público, haveria um autêntico terramoto em Portugal. Há uma enorme e sofisticada rede a funcionar, aqui – uma rede que vai do Governo até ao sistema judicial e à polícia”. “Essa rede” - ainda de acordo com as palavras de Pedro Namora - “é enorme e extremamente poderosa. Inclui magistrados, embaixadores, polícias e políticos – todos procuraram crianças da Casa Pia. É extremamente difícil de desmantelar. Essas pessoas protegem-se uma às outras, porque se um deles fosse preso, todos os outros seriam presos, também”. On dirait que la leçon de l'affaire d'Outreau n'a pas été comprise. O “Daily Mail” faz, a seguir, uma comparação entre a investigação dos dois casos – o desaparecimento de Maddie e a Casa Pia – para referir que, em ambas as situações “a investigação inicial foi mal conduzida” e que “a polícia 'perdeu' fotografias que mostravam políticos portugueses importantes” com Carlos Silvino e com as crianças alvos de abusos sexuais. O jornal cita Teresa Costa Macedo, uma das personalidades que teve uma intervenção polémica neste caso, referindo que “muitas das fotografias” alegadamente entregues por Teresa Costa Macedo à polícia “foram descobertas em casa do ex-embaixador Jorge Ritto”, onde a polícia também terá “encontrado, trancadas, quatro crianças que tinham desaparecido da Casa Pia” - uma informação completamente falsa e inventada, uma vez que, durante as investigações deste caso, nenhuma criança foi encontrada em casa de qualquer dos suspeitos, onde se realizaram buscas policiais. O “Daily Mail” prossegue, nesta linha de total invenção de factos, afirmando que “a Interpol assinalou o país [Portugal] como um dos piores [em matéria de crimes sexuais] de toda a Europa” - outra informação totalmente falsa e que não consta de nenhum dos relatórios anuais da Interpol, disponíveis na Internet. Embora admita que o caso Casa Pia “pode não ter ligações directas com o desaparecimento de Madeleine”, o jornal salienta que “a mesma 'cultura' em que foi permitido que um caso tão sério de uma rede de abusos de crianças operasse é a mesma 'cultura' que atinge Portugal inteiro” e coloca uma questão: “Terá sido esta atitude que levou à desastrosa investigação inicial do caso McCann?”
O tema é retomado, com regularidade, ao longo dos anos e o mesmo “Daily Mail”, em 27 de Maio de 2009, refere que “detectives [privados] à procura de Madeleine McCann acreditam que o Algarve está 'inundado' de abusadores de crianças (…) [esses detectives] descobriram que houve sete ataques de carácter sexual envolvendo filhos de turistas, na zona, nos últimos quatro anos [antes do desaparecimento de Maddie]”. Outro jornal, o “Daily Star”, na sua edição de 28 de Maio de 2009, afirma que Praia da Luz é um “íman” (“a magnet”) para pedófilos, “muitos deles britânicos”. O jornal cita, sem referir nomes, “investigadores privados” contratados pelos McCann que teriam afirmado que “havia 38 pedófilos identificados, no Algarve. A zona é um íman para pedófilos”, acrescenta o artigo do “Daily Star”, cujo título é “Paraíso de pedófilos”.
Num total de artigos publicados com esta tese, apenas são citados três factos concretos: um pedófilo inglês que raptou e matou uma criança também inglesa, 17 anos antes de Maddie desaparecer (julgado e condenado a 25 anos de prisão); um jovem inglês, de 24 anos, empregado de um bar na Praia da Luz, acusado de enviar mensagens de carácter sexual, via sms, a uma jovem inglesa de 12 anos (jovem inglês que desapareceu de Praia da Luz alguns dias depois de a mãe ter comunicado o caso à polícia, pouco antes de Maddie desaparecer) REF; e um último caso de um indivíduo inglês, condenado por pedofilia e que, após ter cumprido prisão, foi viver para o Algarve, com o conhecimento das autoridades inglesas e portuguesas.
Marrocos, o local ideal para albergar os raptores de Maddie
O primeiro alegado avistamento de Maddie tem exactamente lugar em Marrocos. Mari Oli, norueguesa casada com um cidadão britânico e a residir em Inglaterra há muitos anos, ia de regresso à casa e parou, na noite de 8 para 9 de Maio, em Marraquexe. Na manhã de dia 9, o casal foi a uma bomba de gasolina e Mari Oli dirigiu-se à loja da estação comprar água. Ali viu uma criança, loira e de olhos azuis, com ar assustado e ouviou-a perguntar ao adulto que a acompanhava: “Quando é que eu posso ver a minha mãe?” No dia 10, já em Espanha, vê a notícia do desaparecimento de Madeleine McCann nos jornais e, alegadamente, identifica a criança. Telefona à polícia espanhola, que a remete para a sua congénere portuguesa. Mas Mari Oli prefere contactar a polícia inglesa e envia-lhes, inclusive, um email com o relato do alegado avistamento.
A “escolha” de Marrocos como local para onde Maddie teria sido levada, depois do rapto, tratou-se de uma opção que teve em conta razões “operacionais” muito precisas: era praticável “contrabandear” uma criança, via Tarifa, em Espanha, dado o pouco controle que é feito pela polícia espanhola, no enorme fluxo de viaturas de imigrantes marroquinos, com famílias extensas, seis sete filhos, para Marrocos, uma vez que as autoridades do país vizinho se preocupam mais com o tráfico de haxixe proveniente daquele país em direcção a Espanha. Por outro lado, na zona do Riff, no Norte de Marrocos, há uma proporção considerável de habitantes de cabelo loiro e olhos azuis ou verdes, no meio dos quais Maddie passaria despercebida, de acordo com os media britânicos. Aquela região é “controlada” por gangs ligados ao cultivo de haxixe. Marrocos é o segundo maior produtor mundial, depois do Afeganistão, é o principal fornecedor de haxixe à Europa. O “United Nations Office on Drugs and Crime” calcula que cerca de um milhão de habitantes estão ligados ao cultivo de haxixe.
É neste contexto que os media britânicos afirmam que Maddie foi “raptada por encomenda” de um grupo de pedófilos (“árabes ricos que viviam na zona do Riff”) e que tinham uma “preferência especial por crianças loiras de olhos azuis”. Trata-se de um argumento algo absurdo, uma vez que esses pedófilos teriam, na mesma zona em que viviam, crianças com essas características. É na sequência deste “contexto” que os avistamentos em Marrocos são tratados com especial relevo pelos media britânicos. Vários jornais enviam jornalistas para aquele país afim de investigar esses avistamentos, que merecem sempre comentários do porta-voz dos McCann, Clarence Mitchell, no sentido de os classificar como um sinal de esperança para os pais de Maddie. Em contrapartida, cerca de 20 avistamentos na ilha de Malta, logo no primeiro mês após o desaparecimento de Maddie, não merecem qualquer referência do porta-voz e são referidos apenas duas ou três vezes nos media britânicos. Um fenónemo, que aliás surge com frequência nestes avistamentos, é o facto de as muitas testemunhas se preocuparem em contactar os jornais britânicos, sem sequer reportar o caso à polícia. Um turista galês, Ray Roberts, por exemplo, revelou ao jornal “The Sun” ter visto Madeleine na ilha de Malta, no princípio do mês de Junho. No entanto, nunca contactou a polícia local, como confirmaram as autoridades locais, num comunicado à Imprensa. Em Junho de 2007, os McCann fazem uma visita a Marrocos, durante a qual Gerry afirma: “Iremos encontrá-la [Maddie] não interessa em que país esteja. Acredito sinceramente que se ela está em Marrocos, vamos encontrá-la”.
O jornalista Paul Harris, do Daily Mail, fez o trajecto que “provavelmente o raptor de Madeleine fez, para levar uma criança raptada no Algarve e ir para Marrocos, país conhecido pela existência da escravatura de crianças e pelas redes pedófilas organizadas”, como relata, no seu artigo publicado naquele jornal a 11 de Junho de 2007. O jornalista salienta que, em Tarifa, reparou que o controle policial das viaturas era “apenas o mais superficial possível” e perguntou a dois polícias se sabiam quem era Maddie, ao que este responderam negativamente. Em Tânger, acrescenta, “não havia qualquer tipo de controle das bagagens ou viaturas. Daqui [de Tânger] estamos a curta distância de cidades que são conhecidas como centros de redes pedófilas organizadas”, conclui Paul Harris, no seu artigo do Daily Mail. Pelo menos uma dúzia de jornalistas ingleses deslocou-se a Marrocos, na sequência de alegados avistamentos de Maddie. Mais de uma dezena de testemunhas surgem, nos jornais britânicos, com relatos pormenorizados de avistamentos de Maddie em Marrocos. Uma turista espanhola, Isabel Gonzalez, conta ao “Daily Mail”, a 26 de Setembro de 2007, que estava “absolutamente certa” de que tinha visto Maddie, na cidade de Zaio, a Norte de Marrocos, acompanhada por uma mulher que usava um lenço na cabeça. No mesmo artigo é mencionado o desmentido de um outro alegado avistamento, que incluía uma foto tirada à distância, de um carro em andamento, une charettte onde se via uma mulher marroquina a transportar uma criança loira, à costas. As próprias investigações de jornais britânicos permitiram localizar a criança e a sua família, numa remota aldeia daquela zona. Bushra – assim se chamava a criança – era de facto loira e tinha olhos azuis, mas não era Madeleine McCann.
Não obstante estes falsos avistamentos,
Marrocos continuou a ser apontado, pelos media britânicos, ao longo dos
anos, como o destino mais provável para onde um alegado raptor teria levado a filha dos McCann.
O fenómeno dos avistamentos e testemunhas pouco credíveis
Entre Maio de 2007 e Março de 2018, foram assinalados cerca de oito mil avistamentos de Madeleine McCann em 101 países, desde o longínquo Vietname até à remota Nova Zelândia, segundo dados referidos pelo jornal “The Sun”, na sua edição de 12 de Junho de 2018. De destacar o facto de a Imprensa britânica acolher qualquer relato de qualquer indivíduo que afirmasse saber quem tinha raptado Maddie e onde ela estava, dando-lhes frequentemente destaque de primeira página (casos de António Toscano e, mais recentemente, Marcelino Italiano, um angolano segurança de uma discoteca espanhola que disse saber que Maddie tinha sido raptada por um grupo de homens de negócios portugueses, pedófilos, residentes no Algarve e “exportada” para os EUA), sem averiguar minimamente a sua credibilidade. De destacar também os comentários selectivos do porta-voz dos McCann, que sempre deu relevo aos avistamentos em Marrocos e ignorou praticamente todos os outros casos ou comentou-os de forma negativa, classificando-os como destituídos de credibilidade.
A 22 de Junho de 2007 um porta-voz dos McCann é citado, pelo “Mail On Sunday”, a propósito das mais de duas dezenas de avistamentos na ilha de Malta, logo no primeiro mês depois do desaparecimento da criança. Segundo esse porta-voz, não identificado, os McCann “nem sequer pensariam nesses alegados avistamentos antes de serem oficialmente confirmados (…) muitos [desses avistamentos] embora bem-intencionados, nada significam”. Em vários desses casos, a polícia da ilha de Malta nem sequer tinha qualquer registo dos mesmos avistamentos. Ou seja, as tais testemunhas limitaram-se a contactar os media britânicos, sem sequer comunicar os factos à polícia local.
Il faudrait faire la différence entre les témoins ingénus et les imposteurs qui "savent où est, qui a MMC".
O espanhol Antóno Toscano é outro caso insólito: surge do nada, apresenta-se como jornalista de investigação, colaborador de uma dúzia de órgãos de Comunicação Social, especialista na descoberta de crianças desaparecidas (14 sucessos em 15 casos), colaborador da Unidade Especial das “forças e corpos de segurança espanholas e europeias”, como refere no seu curriculum, na sua página pessoal da Internet (https://sites.google.com/site/keiranactors/antonio) e diz saber quem raptou Maddie. Durante mais de dois meses, António Toscano alimenta um “folhetim”, surgindo tanto nos media britânicos como portugueses, onde afirma repetidamente que sabia tudo sobre o rapto, onde se encontrava Maddie e que a criança estava viva. A 27 de Junho de 2007, o alegado investigador e jornalista espanhol monta uma encenação, quando consegue finalmente ser recebido pela Polícia Judiciária, depois de inúmeras insistências e pedidos para uma reunião. A PJ concorda em recebê-lo, na sua delegação de Portimão, mas Toscano não passa da recepção. A PJ diz-lhe apenas que, se tem informações sobre o caso, entregue o dossiê ao funcionário que ali se encontrava. O “investigador” assim faz e, de seguida, pede para ir à casa de banho. Ali fica, durante um período de tempo que pareceu excessivo aos agentes da PJ, que acabam por ir bater à porta e perguntar se estava tudo bem. António Toscano sai e, em declarações aos jornalistas, inventa – graças ao tempo passado na casa de banho – uma longa reunião com responsáveis da PJ, a quem tinha transmitido todas as informações que precisavam para encontrar Maddie. No dia seguinte, Toscano é entrevistado pelo “Daily Express”, que engole a encenação montada e escreve que o espanhol esteve “duas horas” reunido com os responsáveis da PJ, a quem teria dado todas as informações sobre o raptor, de alcunha “O Francês”, incluindo fotografias e o paradeiro da criança que, afirmou “estará ainda na Europa, provavelmente em Portugal”. Quanto à origem das suas informações, Toscano limitou-se a adiantar que eram proveniente de “uma fonte fidedigna”. O auto-proclamado investigador e especialista na localização de crianças desaparecidas – bem como na investigação de redes satânicas - enche de notícias os jornais ingleses, que não se preocupam minimamente em averiguar a sua credibilidade – o que eu fiz, num contacto com as relações públicas da polícia espanhola, que me disseram, pura e simplesmente, nunca ter ouvido falar desse indivíduo. António Toscano acabou por revelar, em Julho de 2007, o nome do alegado raptor – um cineasta francês, membro de um grupo neo-nazi, homossexual assumido, que já tinha sido condenado por posse de pornografia infantil, em 1997 e que tinha um àlibi inatacável, com várias testemunhas a confirmarem que se encontrava em Paris, na altura do rapto.
Em 2011 surge Marcelino Italiano, segurança de uma discoteca espanhola, um angolano que diz saber que Maddie está nos EUA e que foi raptada por um grupo de poderosos homens de negócios, pedófilos, que vivem no Algarve. “The Sun”, a 18 de Fevereiro desse ano, dá a história em primeira mão e coloca as suas declarações na primeira página, acrescentando, no artigo, que Pedro Namora, na qualidade de testemunha no julgamento do caso Casa Pia (um pormenor falso), revelou, na altura, que muitos dos membros da rede pedófila da Casa Pia tinham casas no Algarve, para levar a cabo, aí, as suas actividades criminosas. Num extenso artigo, aquele jornal britânico refere em pormenor as afirmações de Marcelo Italiano que diz que Maddie foi raptada “por um poderoso e influente gang de perigosos pervertidos, que 'caçavam' crianças no Algarve, para depois as 'contrabandear' para fora de Portugal. O segurança da discoteca diz ter sido ameçado de morte, pelo mesmo gang mas estar disposto a ir até o fim, revelando toda a verdade sobre a tal rede que, nas suas palaras, teria “raptado mais de uma dezena de crianças” e teria também “ligações de alto-nível em Portugal e com um esritório de advogados, em Londres”. Num relato claramente fantasioso, Marcelino Italiano vai ao pormenor de explicar que sabia que Madeleine tinha sido “exportada” para os Estados Unidos e diz ter dado à polícia espanhola, em Huelva, um dossier completo sobre a rede pedófila, incluindo nomes e fotografias de dois proeminentes homens de negócios portugueses. O jornal aproveita para fazer uma comparação com o caso Casa Pia, escrevendo que a situação descrita por Marcelino Italiano “tinha semelhanças arrepiantes” com o caso Casa Pia e cita alegadas declarações de Pedro Namora, durante o julgamento deste caso, onde o ex-aluno daquela instituição teria revelado que “muitos dos membros ricos [da rede pedófila da Casa Pia] estavam baseados no Algarve”.
Neste caso, ao contrário dos avistamentos em Marrocos, o assessor de Imprensa dos McCann dá pouca credibilidade às afirmações de Marcelino Italiano: “Os Estados Unidos ficam muito longe de Portugal. 'Contrabandear' uma criança para a América através de meios de transporte normais seria virtualmente impossível”, afirmou, na altura, Clarence Mitchell, aos jornalistas britânicos.
O fenómeno dos avistamentos e testemunhas pouco credíveis
Entre Maio de 2007 e Março de 2018, foram assinalados cerca de oito mil avistamentos de Madeleine McCann em 101 países, desde o longínquo Vietname até à remota Nova Zelândia, segundo dados referidos pelo jornal “The Sun”, na sua edição de 12 de Junho de 2018. De destacar o facto de a Imprensa britânica acolher qualquer relato de qualquer indivíduo que afirmasse saber quem tinha raptado Maddie e onde ela estava, dando-lhes frequentemente destaque de primeira página (casos de António Toscano e, mais recentemente, Marcelino Italiano, um angolano segurança de uma discoteca espanhola que disse saber que Maddie tinha sido raptada por um grupo de homens de negócios portugueses, pedófilos, residentes no Algarve e “exportada” para os EUA), sem averiguar minimamente a sua credibilidade. De destacar também os comentários selectivos do porta-voz dos McCann, que sempre deu relevo aos avistamentos em Marrocos e ignorou praticamente todos os outros casos ou comentou-os de forma negativa, classificando-os como destituídos de credibilidade.
A 22 de Junho de 2007 um porta-voz dos McCann é citado, pelo “Mail On Sunday”, a propósito das mais de duas dezenas de avistamentos na ilha de Malta, logo no primeiro mês depois do desaparecimento da criança. Segundo esse porta-voz, não identificado, os McCann “nem sequer pensariam nesses alegados avistamentos antes de serem oficialmente confirmados (…) muitos [desses avistamentos] embora bem-intencionados, nada significam”. Em vários desses casos, a polícia da ilha de Malta nem sequer tinha qualquer registo dos mesmos avistamentos. Ou seja, as tais testemunhas limitaram-se a contactar os media britânicos, sem sequer comunicar os factos à polícia local.
Il faudrait faire la différence entre les témoins ingénus et les imposteurs qui "savent où est, qui a MMC".
O espanhol Antóno Toscano é outro caso insólito: surge do nada, apresenta-se como jornalista de investigação, colaborador de uma dúzia de órgãos de Comunicação Social, especialista na descoberta de crianças desaparecidas (14 sucessos em 15 casos), colaborador da Unidade Especial das “forças e corpos de segurança espanholas e europeias”, como refere no seu curriculum, na sua página pessoal da Internet (https://sites.google.com/site/keiranactors/antonio) e diz saber quem raptou Maddie. Durante mais de dois meses, António Toscano alimenta um “folhetim”, surgindo tanto nos media britânicos como portugueses, onde afirma repetidamente que sabia tudo sobre o rapto, onde se encontrava Maddie e que a criança estava viva. A 27 de Junho de 2007, o alegado investigador e jornalista espanhol monta uma encenação, quando consegue finalmente ser recebido pela Polícia Judiciária, depois de inúmeras insistências e pedidos para uma reunião. A PJ concorda em recebê-lo, na sua delegação de Portimão, mas Toscano não passa da recepção. A PJ diz-lhe apenas que, se tem informações sobre o caso, entregue o dossiê ao funcionário que ali se encontrava. O “investigador” assim faz e, de seguida, pede para ir à casa de banho. Ali fica, durante um período de tempo que pareceu excessivo aos agentes da PJ, que acabam por ir bater à porta e perguntar se estava tudo bem. António Toscano sai e, em declarações aos jornalistas, inventa – graças ao tempo passado na casa de banho – uma longa reunião com responsáveis da PJ, a quem tinha transmitido todas as informações que precisavam para encontrar Maddie. No dia seguinte, Toscano é entrevistado pelo “Daily Express”, que engole a encenação montada e escreve que o espanhol esteve “duas horas” reunido com os responsáveis da PJ, a quem teria dado todas as informações sobre o raptor, de alcunha “O Francês”, incluindo fotografias e o paradeiro da criança que, afirmou “estará ainda na Europa, provavelmente em Portugal”. Quanto à origem das suas informações, Toscano limitou-se a adiantar que eram proveniente de “uma fonte fidedigna”. O auto-proclamado investigador e especialista na localização de crianças desaparecidas – bem como na investigação de redes satânicas - enche de notícias os jornais ingleses, que não se preocupam minimamente em averiguar a sua credibilidade – o que eu fiz, num contacto com as relações públicas da polícia espanhola, que me disseram, pura e simplesmente, nunca ter ouvido falar desse indivíduo. António Toscano acabou por revelar, em Julho de 2007, o nome do alegado raptor – um cineasta francês, membro de um grupo neo-nazi, homossexual assumido, que já tinha sido condenado por posse de pornografia infantil, em 1997 e que tinha um àlibi inatacável, com várias testemunhas a confirmarem que se encontrava em Paris, na altura do rapto.
Em 2011 surge Marcelino Italiano, segurança de uma discoteca espanhola, um angolano que diz saber que Maddie está nos EUA e que foi raptada por um grupo de poderosos homens de negócios, pedófilos, que vivem no Algarve. “The Sun”, a 18 de Fevereiro desse ano, dá a história em primeira mão e coloca as suas declarações na primeira página, acrescentando, no artigo, que Pedro Namora, na qualidade de testemunha no julgamento do caso Casa Pia (um pormenor falso), revelou, na altura, que muitos dos membros da rede pedófila da Casa Pia tinham casas no Algarve, para levar a cabo, aí, as suas actividades criminosas. Num extenso artigo, aquele jornal britânico refere em pormenor as afirmações de Marcelo Italiano que diz que Maddie foi raptada “por um poderoso e influente gang de perigosos pervertidos, que 'caçavam' crianças no Algarve, para depois as 'contrabandear' para fora de Portugal. O segurança da discoteca diz ter sido ameçado de morte, pelo mesmo gang mas estar disposto a ir até o fim, revelando toda a verdade sobre a tal rede que, nas suas palaras, teria “raptado mais de uma dezena de crianças” e teria também “ligações de alto-nível em Portugal e com um esritório de advogados, em Londres”. Num relato claramente fantasioso, Marcelino Italiano vai ao pormenor de explicar que sabia que Madeleine tinha sido “exportada” para os Estados Unidos e diz ter dado à polícia espanhola, em Huelva, um dossier completo sobre a rede pedófila, incluindo nomes e fotografias de dois proeminentes homens de negócios portugueses. O jornal aproveita para fazer uma comparação com o caso Casa Pia, escrevendo que a situação descrita por Marcelino Italiano “tinha semelhanças arrepiantes” com o caso Casa Pia e cita alegadas declarações de Pedro Namora, durante o julgamento deste caso, onde o ex-aluno daquela instituição teria revelado que “muitos dos membros ricos [da rede pedófila da Casa Pia] estavam baseados no Algarve”.
Neste caso, ao contrário dos avistamentos em Marrocos, o assessor de Imprensa dos McCann dá pouca credibilidade às afirmações de Marcelino Italiano: “Os Estados Unidos ficam muito longe de Portugal. 'Contrabandear' uma criança para a América através de meios de transporte normais seria virtualmente impossível”, afirmou, na altura, Clarence Mitchell, aos jornalistas britânicos.
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