A "inutilidade" das provas obtidas através de ADN
Na altura em que os McCann foram constituídos arguidos, alegadamente com base em provas que incluiriam amostras de ADN de Madeleine McCann, encontradas no carro alugado pelos pais, semanas depois do seu desaparecimento, assistiu-se a uma extensa campanha contra a fiabilidade dessas eventuais provas, nos media britânicos.
Na altura em que os McCann foram constituídos arguidos, alegadamente com base em provas que incluiriam amostras de ADN de Madeleine McCann, encontradas no carro alugado pelos pais, semanas depois do seu desaparecimento, assistiu-se a uma extensa campanha contra a fiabilidade dessas eventuais provas, nos media britânicos.
Logo no
dia 12 de Setembro o próprio Sir Alec Jeffreys, o cientista que
descobriu o método de análise dos marcadores de ADN, levantou uma série
de dúvidas sobre a fiabilidade das análises das amostras recolhidas,
sobre a sua utilização como prova, em julgamento, em declarações à BBC
no programa “Newsnight”. Sir Alec Jeffreys ofereceu-se, inclusive, para ser testemunha dos McCann, caso eles chegassem a ser
acusados e a ir a julgamento. O Dr. Paul Debenham, membro da “Comissão
sobre Genética Humana”, diz a The Telegraph”, também a 12 de Setembro,
que poderá haver “razões aceitáveis” para explicar como é que “o ADN da
Madeleine McCann foi parar ao carro sem que a pessoa em causa lá tenha
estado (…) uma possível explicação (…) seria essa 'transferência' ter sido feita através de roupas ou brinquedos.” O
“Daily Mail” de 9 de Setembro publica um artigo com o título
“Madeleine: erro fatal nos testes que encontraram o [seu] ADN no carro
alugado pelos pais”. O texto cita um estudo da autoria de seis
proeminentes cientistas do Forensic Science Service – laboratório
britânico onde estavam a ser realizadas as análises das amostras
recolhidas – no qual esses cientistas explicavam que, embora fosse possível
identificar, com segurança, o ADN de qualquer pessoa, não havia forma
de provar como esses vestígios tinham ido parar a um determinado
local, uma vez que partículas de ADN podiam ser transferidas de uma
pessoa para outra e que essa transferência podia, inclusive, acontecer
semanas, meses e até anos depois do contacto inicial. A
19 de Setembro o “The Guardian” cita “fontes da família [McCann]” como
tendo afirmado que as provas baseadas no ADN de Maddie, alegadamente
encontradas no carro, “podiam facilmente ser explicadas” e que seriam
“totalmente inúteis” numa eventual acusação. Segundo as mesmas fontes,
“mais de 30 amigos e familiares [dos McCann] usaram o carro, antes de a
polícia fazer os seus testes (…) e o carro também foi utilizado para
transportar objectos pertencentes a Madeleine, quando a família mudou de
apartamento”.
Um pormenor interessante, relacionado com
esta campanha contra a fiabilidade das provas obtidas através da
comparação de ADN, é o facto de o Reino Unido ter a segunda maior base
de dados de perfis genéticos – depois dos EUA – de criminosos condenados
e meros suspeitos de crimes, num total que ronda os seis milhões de
indivíduos. A utilização dessa base de dados é
frequente, nas investigações da polícia britânica e, de acordo com dados
da própria polícia, permite resolver, em média, cerca de 1. 300 casos
em cada 100 mil crimes. Alguns dos casos mais mediáticos no Reino Unido foram, inclusive, resolvidos através da comparação de perfis genéticos. Russel
Bishop foi acusado, 32 anos depois de ter sido ilibado num primeiro
julgamento, pelo assassínio de duas crianças de nove anos de idade, em
1986, depois de os avanços nesta tecnologia forense terem permitido a
obtenção de provas da existência do ADN das crianças em amostras recolhidas numa camisola do assassino. Noutro
caso mediático, o assassínio de uma criança negra de 10 anos de idade,
Damilola Taylor, dois adolescentes foram condenados após terem sido
encontradas amostras de sangue na roupa de um dos assassinos, também
através da comparação de perfis genéticos.
No entanto,
mal surgiu a hipótese de uma eventual acusação contra os McCann baseada
nessa tecnologia forense, praticamente todos os media britânicos
publicaram artigos ou entrevistas de especialistas onde a comparação de
perfis genéticos era minimizada ou até excluída, como meio de prova
fiável.
Cela reste à démontrer.
Os detectives privados
A
explicação mais curiosa para a contratação de detectives privados, por
parte dos McCann, veio em declarações de Jon Corner, padrinho de Amelie,
uma dos gémeos do casal, a 16 de Setembro de 2007, em declarações a “The Times”: “Antes, havia avistamentos [de Madeleine] um pouco por todo
o mundo, o que dava a Gerry e Kate a esperança de encontrar a sua
filha. Recentemente, desde que a polícia se concentrou em Gerry e na
Kate, [esses avistamentos] pararam.” O assessor de imprensa dos McCann, em 21 de Abril de 2008, dá uma explicação diferente
a “The Times”: “Se a PJ tivesse feito 'o seu trabalho correctamente'
(…) os McCann nunca se teriam sentido compelidos a contratar a empresa
de investigação privada Método 3, de Barcelona, com a qual o o [Fundo]
da campanha 'Encontrem a Madeleine' gastou cerca de 200 mil libras”,
refere o jornal, citando Clarence Mitchell.
A escolha
dos detectives privados parece ter sido feita segundo critérios pouco
selectivos, mas atingindo sempre um objectivo concreto, nas afirmações
públicas desses mesmos detectives: Maddie tinha sido raptada por uma rede
de pedófilos. Método 3, uma pequena e obscura agência privada de
detectives, sediada em Barcelona, cumpriu essa “função” de forma
brilhante : em declarações públicas, a 13 de Dezembro de 2007, no jornal
“The Telegraph”, o responsável da empresa, Francisco Marco, dizia que já
sabia onde estava Maddie (em Marrocos..), que estava a recolher provas
para levar à detenção dos seus raptores e que conseguiria trazer a
criança para casa antes do Natal desse ano – isto depois de, em finais
de Novembro, admitir que Maddie poderia estar na Arábia Saudita, eventualmente raptada por ordens de um rico pedófilo árabe. No
entanto, um mês antes, o mesmo responsável admitia como mais provável a
hipótese de que Madeleine ainda estivesse em Portugal. No mesmo artigo
de “The Telegraph”, o porta-voz dos McCann salientava o facto de o casal
ter “total confiança” na agência espanhola que, em Outubro desse mesmo
ano, tinha pura e simplesmente inventado uma descoberta sua, também em
Marrocos. Tratar-se-ia de uma outra criança loira, “provavelmente
norte-americana”, segundo Francisco Marco, que a sua agência de
detectives tinha encontrado numa localidade a Norte de Marrocos. De
acordo com Método 3, citado na edição do “Daily Mail” de 29 de
Outubro de 2007, a Interpol tinha sido logo informada do paradeiro da
criança – o que a Interpol desmentiu, pouco depois. Estas declarações da
criança “recuperada” surgem à mistura com afirmações claramente falsas,
como o facto de “haver um longo historial de crianças raptadas na
Europa que acabavam por ir parar a Marrocos”, segundo afirmou Francisco
Marco, no mesmo artigo.
A própria Imprensa britânica se
encarregou de desmascarar Método 3, com uma série de reportagens
demolidoras, provando que se tratava de uma empresa de “vão-de-escada”,
com um reduzido número de trabalhadores e sem credibilidade no seu meio
profissional. Em Julho de 2008 o “Correio da Manhã” revelava que Método 3 estava a ser alvo de uma investigação por parte da Polícia
Judiciária, por uma tentativa de extorsão e homicídio, relacionada com
as suas investigações do caso McCann.
O contrato de seis
meses com a Método 3 acabou por não ser renovado pelos McCann. A
empresa voltou a ser notícia em 2013, quando Francisco Marco e três dos
seus claboradores mais próximos foram detidos pela polícia espanhola e
acusados de espionagem ilegal a políticos, homens de negócios e juízes,
na Catalunha.
De entre os vários detectives privados contratados
pelos McCann, Dave Edgar, um ex-polícia britânico, é outro exemplo. A
investigação da equipa que liderou conduz sempre à mesma conclusão:
Maddie tinha sido raptada por uma rede pedófila – neste caso, Edgar
“descobre” uma nova pista, uma mulher com sotaque australiano, que teria
sido vista em Barcelona, três dias depois de Maddie desaparecer,
alegadamente à espera que lhe fosse entregue uma criança.
Kevin
Halligen, um auto-proclamado ex-agente de vários serviços secretos,
desde o MI6 até à CIA, revelou-se a mais completa de todas as fraudes em
que os McCann caíram, na contratação de detectives privados. No
entanto, como em todos os outros casos, mereceu inicialmente amplo
destaque nos ùedia britânicos. Os mesmo jornais, porém,
acabaram por o demolir completamente. Halligen prometeu, entre outras
coisas, fornecer fotografias da zona da Praia da Luz, tiradas por um
satélite norte-americano, à hora em que Madeleine teria sido raptada.
Depois de terem gasto dezenas de milhares de libras com este “detective”, a
única coisa que os McCann obtiveram foram algumas imagens tiradas do
“Google Maps”.
A mais curiosa contractação, envolta em mistério, foi a da empresa inglesa Control Risks Group (CRG), uma empresa formada por ex-elementos das forças especiais britânicas, como o Special Air Service, ou norte-americanas, como os Navy Seals ou os Rangers e que também integra, no seu quadro de dirigentes, ex-elementos dos serviços secretos britânicos e americanos. A CRG, que tinha, na altura, cerca de 3 mil funcionários e escritórios em perto de uma centena de países, actuou – e actua - essencialmente em zonas de conflito, como o Iraque ou Afeganistão, ou em países onde a segurança constituia um risco para grandes empresas, como Angola, Bósnia ou Ucrânia. Dois responsáveis do CRG, Kenneth Farrow e Micheal Keenan, chegaram ao aeroporto de Faro a 13 de Maio de 2007 – uma notícia que dei em primeira mão, no meu blogue, depois de uma fonte profissionalmente relacionada com essa área me ter transmitido a informação. Por mero acaso, essa fonte, um cidadão britânico, viajou no mesmo avião que os responsáveis do CRG.
A mais curiosa contractação, envolta em mistério, foi a da empresa inglesa Control Risks Group (CRG), uma empresa formada por ex-elementos das forças especiais britânicas, como o Special Air Service, ou norte-americanas, como os Navy Seals ou os Rangers e que também integra, no seu quadro de dirigentes, ex-elementos dos serviços secretos britânicos e americanos. A CRG, que tinha, na altura, cerca de 3 mil funcionários e escritórios em perto de uma centena de países, actuou – e actua - essencialmente em zonas de conflito, como o Iraque ou Afeganistão, ou em países onde a segurança constituia um risco para grandes empresas, como Angola, Bósnia ou Ucrânia. Dois responsáveis do CRG, Kenneth Farrow e Micheal Keenan, chegaram ao aeroporto de Faro a 13 de Maio de 2007 – uma notícia que dei em primeira mão, no meu blogue, depois de uma fonte profissionalmente relacionada com essa área me ter transmitido a informação. Por mero acaso, essa fonte, um cidadão britânico, viajou no mesmo avião que os responsáveis do CRG.
Poucas semanas
antes, Gerry e Kate McCann tinham tido uma reunião, com o CRG, em
Londres, aranjada pelo multimilionário britânico Brian Kennedy, um dos
seus apoiantes. O CRG está entre as 20 maiores empresas de
“contractors” do mundo – empresas cujos funcionários desempenham, com
frequência, funções para-militares, em zonas de conflitos armados. Em
2016, por exemplo, e de acordo com um relatório da “War on Want”, uma
organização não-governamental, o Control Risk Group tinha cerca de 1.200
homens, ex-soldados, a operar no Iraque, sob contrato com o Governo
norte-americano.
O envolvimento do CRG, inicialmente
noticiado por mim ce mec est d'un vaniteux !, foi confirmado mais tarde pela própria Imprensa
britânica, num artigo do “Daily Mail” de 23 de Setembro de 2007, onde o
jornal referia que “desesperados” com a ineficácia da polícia
portuguesa, “os McCann tinham-se virado para o Control Risks Group”,
pagando milhares de libras por semana para que esta empresa
desenvolvesse a sua própria investigação acerca do desaparecimento da
filha.
Non, le CRG a été contracté par Mark Warner.
Os “localizadores de corpos”
Um
episódio algo absurdo é a contractação, pelos McCann, de um
sul-africano, que se apresenta como antigo alto funcionário da polícia
daquele país e cientista, que alega ter inventado um aparelho que,
através de GPS, consegue descobrir cadáveres. Ao mesmo tempo que
insistiam que Maddie estava viva, os McCann contratam Daniel Krugel, que
está cerca de uma semana na Praia da Luz, em Julho de 2007, a tentar
localizar o cadáver de Maddie.
O prestigiado “Guardian”, que não é propriamente Quel culot ! um tabloide como “The Sun” ou o
“Daily Star”, deixa-se levar completamente por este falso cientista e
polícia e publica, em 7 de Outubro de 2007, um artigo com o título
“Análises forenses de ADN revelam sinais do corpo de Madeleine na praia
do resort”. O sul-africano teria inventado uma máquina
que, através de um simples fio de cabelo e usando a tecnologia do GPS,
conseguia descobrir onde estava o corpo de onde esse cabelo tinha sido
retirado. O jornal vai ao ponto de afirmar que as “descobertas” do
sul-africano tinham sido levadas tão a sério pela polícia portuguesa que
tinham sido realizadas buscas na praia da localidade algarvia, citando
como fonte “um amigo próximo dos McCann”. La police a cédé aux supplications des MC dans l'espoir d'obtenir une confession.
Acontece que
Daniel Krugel era um fraude completa, fácil de desmascarar. Nunca
pertenceu aos quadros da polícia sul-africana, o que o departamento de
relações públicas daquela instituição me confirmou, através de email, e
tinha sido apenas um elemento da segurança privada de uma pequena
universidade sul-africana, a “Central University of Technology”, no
Estado de Orange, quando alegava ter sido professor
nessa mesma universidade e responsável pela área da Saúde e Segurança. O
mais estranho, nesta contractação por parte dos McCann, é ela ter sido
feita ao mesmo tempo que o casal afirmava, repetidamente, a sua
convicção de que Madeleine estava viva.
Alguns anos
depois, outro sul-africano fez manchetes na imprensa britânica, ao
afirmar que também tinha descoberto onde estava o corpo de Maddie.
Stephen Birch, um promotor imobiliário, alegou ter usado um radar
especial, para fazer um “scanning” de várias zonas da Praia da Luz,
incluindo o quintal da casa de Robert Murat e dizendo ter encontrado
sinais de ossos humanos numa zona a cerca de 150 metros do Ocean Club,
numa versão, ou no quintal das traseiras da casa de Robert Murat, noutra
versão. O “Daily Star”, “Sky News”, o “Metro”, entre outros,
dão destaque a este “especialista”. O “Daily Star”, na
sua edição de 7 de Julho de 2012, anuncia a alegada descoberta de Birch,
mas desta vez, curiosamente, a omnipresente “fonte próxima da família”
recusa-lhe qualquer credibilidade: “Kate e Gerry não acreditam que haja
algo de credível no que ele [Stephen Birch] diz. Parece ser tudo uma
mentira completa. Se houvesse algo de verdade nisso, a polícia estaria a
escavar na área, à procura de eventuais restos mortais”, escreve o tabloide britânico.
Um advogado madeirense, Marcos
Aragão Correia, também foi notícia no “Daily Mail”, no “Daily Record”,
no “Evening Standard”, no “Mirror” e no “Sun”, entre outros
jornais britânicos, quando afirmou saber onde estava o corpo de Maddie. O
advogado apresentou três versões diferentes sobre a origem da
informação: na primeira, teriam sido “fontes do sub-mundo criminal” que
lhe teriam transmitido as informações; na segunda versão, diz ter tido
uma “visão”, quando regressava de um “retiro
espiritual”, onde viu uma homem a estrangular uma criança loira; na
terceira versão, afirmava que uma pessoa, não identificada, lhe deu um
“desenho” de um zona, que incluía uma pequena barragem, no Algarve, onde
estava o corpo de Maddie. Os jornais ingleses
aproveitaram para acusar a PJ de ter ignorado estas informações e de não
ter investigado a pista. Em 4 de Fevereiro de 2008, o “The Telegraph”
noticia buscas feitas por mergulhadores, pagos pelo advogado ou Metodo 3?, na
barragem do Arade, no Algarve, salientando que Aragão Correia “tinha
transmitido as suas informações à polícia, três dias depois de Madeleine
ter desaparecido” e destacando as suas afirmações sobre o facto de a
polícia nada ter feito quanto a investigar essa pista. No final das buscas, a única coisa que os mergulhadores encontraram foi um saco com ossos de animais...
A “liquidação” dos melhores cães-pisteiros do mundo
Em 2005, “The Times”, o “Daily Mail”, “The Telegraph” e “The Sun”, entre outros jornais britânicos, publicaram várias reportagens sobre Keela, um cão-pisteiro da polícia de South Yorkshire, que tinha uma capacidade única de detectar o odor a sangue, mesmo em roupas que já tivessem sido lavadas várias vezes. Na reportagem do “Daily Mail”, de 30 de Dezembro de 2005, por exemplo, destacava-se o facto de Keela “ganhar” mais do que o próprio chefe da polícia de South Yorkshire – ou seja, os gastos com a sua manutenção e treino eram superiores ao salário de Meredydd Hughes, o responsável máximo daquela força policial. O mesmo chefe de polícia era citado, no artigo, afirmando que “o treino de Keela dá à polícia uma vantagem no que diz respeito à investigação forense, que devemos reconhecer e usar com mais frequência (…) Sabemos que temos uma secção canina com uma operacionalidade excelente e os nossos cães especializados estão a ser treinados de uma forma única”. O artigo salientava ainda que Keela tinha sido utilizado por várias forças policiais do Reino Unido, que pagavam 530 libras por dia, sempre que o cão estava ao seu serviço, na investigação de crimes.
Em 2005, “The Times”, o “Daily Mail”, “The Telegraph” e “The Sun”, entre outros jornais britânicos, publicaram várias reportagens sobre Keela, um cão-pisteiro da polícia de South Yorkshire, que tinha uma capacidade única de detectar o odor a sangue, mesmo em roupas que já tivessem sido lavadas várias vezes. Na reportagem do “Daily Mail”, de 30 de Dezembro de 2005, por exemplo, destacava-se o facto de Keela “ganhar” mais do que o próprio chefe da polícia de South Yorkshire – ou seja, os gastos com a sua manutenção e treino eram superiores ao salário de Meredydd Hughes, o responsável máximo daquela força policial. O mesmo chefe de polícia era citado, no artigo, afirmando que “o treino de Keela dá à polícia uma vantagem no que diz respeito à investigação forense, que devemos reconhecer e usar com mais frequência (…) Sabemos que temos uma secção canina com uma operacionalidade excelente e os nossos cães especializados estão a ser treinados de uma forma única”. O artigo salientava ainda que Keela tinha sido utilizado por várias forças policiais do Reino Unido, que pagavam 530 libras por dia, sempre que o cão estava ao seu serviço, na investigação de crimes.
A
utilização de Keela e de um outro cão, Eddie, este especializado na
detecção do odor específico de um cadáver, foi sugerida pelos próprios
McCann, como refere um artigo do “The Guardian”, de 23 de Setembro de
2007. Mais c'est outrageusement faux ! Nesse artigo, o jornal cita “uma fonte próxima dos McCann” como
tendo afirmado que “a família pediu para que se fizesse uma investigação mais completa”, sugerindo a utilização dos tais cães-pisteiros. “Trata-se
de uma suprema ironia”, acrescenta o jornal, salientando que esta
atitude não seria lógica, se o casal fosse culpado: “Fontes policiais
próximas da investigação referiram ontem que, embora os cães-pisteiros
tivessem 'reagido' a algumas das roupas de Kate, 'não tinha sido
possível obter provas utilizáveis a partir do ADN encontrado, o que
significava que não havia provas forenses que confirmassem a reacção dos
cães”.
Depois de Keela e Eddie, outro cão-pisteiro com
treino especial para detectar o mínimo odor de cadáveres, terem dado
sinais positivos, em buscas efectuadas no carro alugado pelos McCann e
nas roupas de Kate McCann, o tom geral da Imprensa britânica muda
completamente. “The Sun” é o melhor exemplo: em 2005, a
história sobre os cães-pisteiros tem o título “The Sherlock Bones of
UK”. Nesse artigo, destacava-se o facto de Keela ser capaz de “detectar
[o odor] de sangue mesmo em roupas que tivessem sido lavadas várias
vezes”. A 5 de Setembro de 2007, a propósito da
intervenção de Eddie e Keela no caso Maddie, “The Sun” publica outra
história: “It's crazy to rely on animals” - “É uma loucura confiar em
animais”. Citando “especialistas” não identificados, “The Sun” afirma
que esses mesmos especialistas consideram que os cães-pisteiros “podem
desempenhar um papel crucial na luta contra o crime” mas adiantam que
“será uma loucura basear-se nas suas descobertas”. Um desses
especialistas não-identificados adianta: ”os cães podem identificar
sinais de sangue, mas é uma loucura tirar grandes conclusões apenas a
partir do que eles encontram. Qualquer prova que eles encontrem deve ser
usada apenas como um ponto de partida. É uma loucura basear-se apenas nas descobertas dos cães-pisteiros”.
Specialized police dogs
- Apprehension and attack dogs - This dog is used to locate and subdue suspects or enemies.
- Search and rescue dogs (SAR) - This dog is used to locate suspects or find missing people or objects. Belgian Malinois, German shepherds, Golden retrievers, Labrador retrievers, and Bloodhounds can all be used.
- Detection or explosive dogs - Some dogs are used to detect illicit substances such as drugs or explosives which may be carried on a person or in their effects. Many police dogs are trained to detect marijuana, heroin, cocaine, crack cocaine, and methamphetamines.
- Dual purpose dog - Also known as a patrol dog, each of these dogs is fully trained and skilled in tracking; handler protection; off-leash obedience; article, area and building search; and criminal apprehension.
O
jornal acrescenta declarações de um porta-voz dos McCann, sem o
identificar, que diz que “os sinais de alerta dos cães não são fiáveis. O
próprio treinador deixa claro, no relatório para a polícia [portuguesa]
que aqueles alertas não têm significado sem haver outras provas quue os
confirmem. E essas provas não existem”.
“The
Times”, em 17 de Setembro de 2007, refere que o casal McCann contactou
os advogados de um cidadão norte-americano, acusado de homicídio, e que
conseguiu anular, em tribunal, provas obtidas através de cães-pisteiros,
que foram não foram consideradas fiáveis. “Kate e Gerry McCann têm a
esperança de que este caso consiga ajudá-los a provar a sua inocência”,
escreve o “The Times” Declarações de Gerry McCann, sobre a fiabilidade
dos cães-pisteiros numa entrevista ao semanário Expresso são
reproduzidas pelo jornal “The Telegraph”, a 15 de Setembro de 2008. De
acordo com o jornal britânico, Gerry McCann mencionou um estudo feito
nos Estados Unidos, sem identificar autores ou outros pormenores, que
após vários testes, teria chegado à conclusão de que os cães-pisteiros
“falharam em 2/3 dos testes efectuados”. No entanto, o jornal cita
também o relatório feito para a PJ pelo treinador de Eddie e Keela,
Martim Grimes, onde esteve escreveu que “em cerca de 200 casos em que os
cães foram utilizados, nunca deram um falso alerta”. Outros
jornais alinham pelo mesmo mote e o “The Telegraph” de 18 de Setembro
de 2007 salienta também que “provas similares foram rejeitadas num
julgamento de um homicídio nos EUA, devido ao facto de especialistas
considerarem que os cães tinham uma fraca "performance”. Caso Zapata.
Nas
inúmeras referências sobre este julgamento e a decisão de um tribunal
norte-americano, surgidas em diversos jornais britânicos – no “The
Telegraph”, a 16 de Setembro de 2007, por exemplo –
cita-se o que terá sido, aparentemente, a conclusão de tribunal de
Wisconsin, acerca da fiabilidade dos cães-pisteiros: “Não são mais
fiáveis do que atirar uma moeda ao ar”.
A polícia de South
Yorkshire apagou, entretanto, uma página do seu site dedicada a Keela, o
springer spaniel que era alugado a outras forças policiais por 500
libras por dia. Quando questionei a polícia sobre esse facto,
limitaram-se a ignorar os vários emails que lhes enviei. Tive que
recorrer a um mecanismo legal, o “Freedom of Information Act” (FOI),
para conseguir obter uma resposta às minhas perguntas. Depois de algumas
semanas, fui informado de que o site da polícia tinha mudado de domínio
e que, nessa mudança, a tal página, que era uma espécie de “diário” com
informações sobre Keela, tinha sido “perdida”. A explicação é
claramente falsa, uma vez que a página continua activa, no site da
polícia de South Yorkshire, com o mesmo endereço -
https://www.southyorks.police.uk/kidzone/dogdiary/thisweek.php –
mas vazia, apenas com a inscrição “Content not found”. Diversas buscas
efectuadas no mesmo site, utilizando palavras-chave como
“câes-pisteiros”, “cães”, “Keela”, deram todas resultados negativos.
Após alguns meses, consegui também obter a informação de que Keela já
não é utilizada pela polícia de South Yorkshire. A explicação foi
sucinta: “Keela foi 'autorizada' a reformar-se”. En fait l'explication est que Martin Grime a quitté la South Yorkshire Police peu après les recherches à PdL.
Um “exército” de jornalistas em Huelva
No dia 3 de Agosto de 2007, o casal McCann, acompanhado por Jon Corner, padrinho da gémea Amelie e por um operador de câmara, partem da Praia da Luz para uma deslocação à cidade de Huelva. Na véspera, os jornalistas tinham sido informados de que Gerry tinha uma infecção gastro-intestinal e todos os planos de campanha para os próximos dias tinham sido cancelados. A Sky News noticia, no dia 2 de Agosto, que uma “nova iniciativa” na campanha para encontrar Madeleine McCann tinha sido adiada, devido a esse problema de saúde de Gerry McCann. Estava tudo preparado para a deslocação, segundo a televisão britânica, com panfletos em espanhol e previstas reuniões com políticos locais. A partida do casal e dos seus acompanhantes, de carro, é feita no meio do maior segredo, com os jornalistas convencidos de que não haveria nenhuma acção de campanha, nesse dia e, naturalmente, a aproveitarem para gozar um dia de folga. O grupo chegou a Huelva por volta do meio-dia e deslocou-se à estação de comboios, à catedral e ao terminal rodovário, onde distribuíram panfletos aos poucos transeuntes que encontraram e partiram de regresso à Praia da Luz por volta das 14h30. Não houve qualquer encontro com políticos locais, até porque era feriado municipal na cidade. Os McCann, curiosamente optaram por ir apenas a essas zonas, quando quase toda a população de Huelva estava concentrada no centro da cidade, num arraial que comemora a partida das naus de Cristóvão Colombo (facto sem comprovativo histórico, mas que é celebrado, anualmente, em Huelva).
Em
finais de Setembro, surgem notícias indicando que a polícia portuguesa
estava a investigar essa deslocação, tanto pelo facto de ter sido feita
em segredo, com um aviso prévio aos jornalistas, no dia 2 de Agosto, de
que não haveria qualquer iniciativa ou acção planeada para o dia
seguinte, como pelo facto de, alegadamente, o tempo gasto na deslocação e
permanência na cidade não coincidir com informações recolhidas junto de
testemunhas locais, bem como registos de câmaras de vídeo-vigilância.
Em causa, de acordo com as notícias que surgem primeiro na Imprensa
portuguesa, estaria um período de tempo de duas horas, durante as quais
não haveria sinais do carro e dos seus ocupantes, em Huelva.
C'est la campagne à Huelva du 2 mai qui a été annulée sous prétexte de virus et à cause de l'arrivée des chiens.
Clarence
Mitchell sai em defesa do casal e o jornal “The Sun”, na sua edição de
28 de Setembro de 2007, publica um artigo onde refere que “uma vez em
Espanha, o casal foi seguido por um 'exército' de jornalistas”. O
porta-voz dos McCann afirma, nesse mesmo artigo, que “a viagem a Huelva
foi organizada em nome da campanha 'Find Madeleine'. Foi conduzida em
plena luz do dia, perante jornalistas de toda a Europa e de outros
países." No entanto, as várias fotos que o próprio “Team
McCann” distribuiu aos jornalistas (e que têm planos abertos) mostram
apenas Kate, Gerry, um operador de vídeo do “Team McCann” e Jon Connor,
padrinho da gémea Amélie. Não é visível um único jornalista, um
fotógrafo ou uma equipa de televisão, apenas alguns transeuntes, no
terminal de autocarros de Huelva, quase vazio e numa esplanada de um
café, numa rua próxima – algo que fica muito longe do tal “exército de
jornalistas” que “The Sun” refere e das declarações formais de
Clarence Mitchell.
As investigações da polícia
portuguesa sobre essa deslocação e as alegadas duas horas em que os
McCann e os seus acompanhantes teriam “desaparecido” não chegaram a
qualquer conclusão.
A falsa proposta de “plea bragain”
Depois
do interrogatório de Kate McCann, a 7 de Setembro de 2007, já na
qualidade de arguida, a cunhada, Philomena McCann e outros familiares
divulgam a notícia de que a PJ lhe teria feita uma proposta de “plea
bargain” - um mecanismo jurídico que não existe em Portugal e é apenas
utilizado nos EUA, que permite reduções de penas a condenados, caso
estes colaborem com a polícia na investigação ou no fornecimento de
informações sobre outros crimes de que tenham conhecimento. Segundo as
informações amplamente reproduzidas pela quase totalidade dos ledia
britânicos, durante cerca de duas semanas, a PJ teria proposto a Kate
McCann que confessasse que Maddie tinha morrido de forma acidental,
obtendo em troca uma pena mais leve. Pour recel de cadavre. Philomena McCann, a
irmã de Gerry, até participou, via telefone, num programa de Larry
King, onde reproduziu a conversa com a mãe de Maddie, após o
interrogatório, onde esta lhe referiu a alegada proposta da Polícia
Judiciária.
Um dos advogados portugueses dos McCann, Carlos
Pinto de Abreu, que acompanhou todo o interrogatório de Kate McCann, na
PJ, acabou por colocar um ponto final nesta campanha de desinformação,
ao declarar aos jornalistas, a 17 de Setembro de 2007, que “não houve
qualquer proposta de 'plea bargain'. Foi apenas um mal-entendido.” Mesmo
assim, em 2011, Kate McCann falsifica completamente o episódio, no seu
livro “Madeleine”, onde escreve que “a oferta da 'plea bargain' lhe foi
apresentada pelo seu próprio advogado, Carlos Pinto de Abreu.” Vengeance probablement.
“Milhares” de crianças desaparecidas em Portugal
A
manipulação noticiosa também passou pelos Media de língua inglesa que
se publicam em Portugal e já bastantes anos depois de Madeleine
desaparecer. Na sua edição de 18 de Julho de 2012, o jornal “Algarve
News” publica uma notícia sobre um novo sistema de alerta rápido, no
caso do desaparecimento de uma criança. O sistema funcionava com base
num aplicação para telemóveis e tinha sido lançado por uma empresa, a
título experimental, em Portugal.
“Há cerca de um milhão
e 750 mil crianças com menos de 14 anos em Portugal. Esse número
aumenta exponecialmente quando chegam os turistas de férias. Embora
Portugal seja um país seguro, de uma forma geral, milhares [de crianças]
desaparecem todos os anos. A grande maioria é encontrada mas um número
significativo não é. Infelizmente, as estatísticas [sobre estes casos]
são vagas e incompletas” - escreve o “Algarve Daily News”. Os
dados são obviamente falsos e há uma distorção, na utilização da
palavra “desaparecidas”. O termo aplica-se, tanto em termos policiais
como jornalísticos, a casos em que os menores estão desaparecidos há um
longo período de tempo, não a situações em que as crianças se perdem dos
pais, numa praia cheia de gente, durante algumas horas ou a
adolescentes que fogem de casa, durante alguns dias. E ao contrário do
que a notícia refere, o número está muito longe de chegar aos milhares.
Como referia o “Diário de Notícias”, num artigo publicado a 21 de Maio
de 2008, a Polícia Judicária lida com cerca de 750 casos por ano, na
quase totalidade pré-adolescentes e adolescentes que fogem de casa e que
são, em média, encontrados em cinco dias. Por
outro lado, os números disponíveis não são nem vagos nem incompletos e
estão acessíveis ao público. No site oficial da Polícia Judiciária está a
lista de crianças desaparecidas em Portugal, nos últimos 18 anos:
apenas 8, incluindo Madeleine McCann.
Em contacto com o
Algarve Daily News, o seu director explicou-me que a notícia foi feita
com base num “press-release”, enviado em nome da empresa, por um
indivíduo que se identificava como relações públicas dessa mesma
empresa: Len Port, um cidadão birtânico, nascido na Irlanda e radicado
no Algarve. Curiosamente, esse mesmo indivíduo também se assume como
jornalista – o que é incompatível com a profissão de relações públicas.
Escreveu vários livros sobre o Algarve e sobre as aparições em Fátima. A
sua biografia é, no mínimo estranha. No site da Amazon, refere-se que é
jornalista “há cerca de 50 anos e trabalhou para muitos destacados
órgãos de Comunicação Social (…) colaborando também com jornais
britânicos”. No site da editora “Guerra & Paz”, escreve-se apenas
que nasceu e cresceu na Irlanda, tendo trabalhado no Departamento de
Paleontologia do Museu de História Natural de Londres e como zoologista
na Austrália. No site de outra editora, a Wook, diz-se
que Len Port “durante a sua longa carreira de jornalista, colaborou com
vários meios de comunicação social, em Hong-Kong e na África do Sul,
entre outros países”. Uma nota biográfica no “Portuguese American
Journal”, onde publicou algumas colaborações, refere-se também uma
carreira de jornalista internacional ao serviço “de alguns dos maiores
órgãos de Comunicação Social mundiais”. Mas em nenhum dos casos se
identifica qualquer um desses grandes jornais, revistas ou outras
organizações noticiosas para as quais Len Port tenha trabalhado.
Uma brilhante manobra de “desinformação”
Martin
Brunt, da Sky News, é considerado um do melhores jornalistas na área do
crime, no Reino Unido. Enviado para a Praia da Luz, lamentava-se
amargamente, pouco depois de chegar, pelo facto de não ter nem fontes
nem informação sobre o caso. No seu blog "A Life of Crime" ("Uma Vida de
Crime"), a 12 de Maio, reconhece que a Sky News “estava um pouco
'seca', em matéria de fontes ('a little bit thin about sources') na
Praia da Luz”. Não havia, escreve ele, “um polícia simpático com quem
beber um café e que desse algumas 'dicas' sobre a investigação”.
Confessa que não sabe nada sobre o caso mas acrescenta estar convencido
de que a PJ também não sabe nada.
Em meados de Junho, escreve o
que terá sido talvez o mais ofensivo e insultuoso texto em relação aos
jornalistas portugueses que cobriam o caso, também no seu blogue: "Tenho
que me guiar pela informação da Imprensa portuguesa cuja fiabilidade é
altamente questionável. Um jornal parece ter bons contactos. O resto das
notícias [publicadas pelos jornais portugueses] é bem descrito como
'colhões' (sic)".
No mesmo texto, faz um ataque absurdo àquilo
que os jornalistas britânicos baptizaram como "a lei do segredo"
("secrecy law"), alegando que a polícia portuguesa se "esconde" por
detrás dessa lei - a chamada Lei do Segredo de Justiça - para
não revelar pormenores da investigação, adiantando que "há a ideia de
que essa lei será anulada, depois de ter sido mundialmente coberta de
rídiculo".
Estas críticas são absolutamente destituídas de sentido, uma vez que a actuação da Polícia
Judiciária, em matéria de casos em investigação, é idêntica à da
polícia britânica. Em caso algum se revelam pormenores de uma
investigação em curso, uma vez que isso poderia colocar em risco o
sucesso da mesma investigação. No entanto, a polícia britânica, por
norma, nos casos mais mediáticos, monta uma manobra de entretenimento
dos jornalistas, destancando um responsável para alguns minutos de
conversa, onde nada de concreto é adiantado, quanto ao decorrer das
investigações, mas permite os dois minutos de imagem, à televisões e
algumas frases para citar na Imprensa.
Em Setembro, Marin Brunt é
o protagonista de uma brilhante manobra de desinformação. No dia 10, já
depois dos McCann terem sido constituídos arguidos, lança uma notícia
exclusiva da Sky News. Citando "fontes da polícia portuguesa", refere
que a Sky News apurou que os resultados das análises feitas, no Forensic
Science Service, um laboratório britânico, às amostras recolhidas no
carro aluado pelos McCann, revelavam "três resultados positivos, a
100%", com o ADN de Madeleine McCann, adiantando que uma das amostras
tinha sido recolhida na bagageira do carro.
A notícia é
repetida durante todo os dias 10 e 11 de Setembro, criando assim na
opinião pública – tanto portuguesa como britânica – a ideia de que a PJ
tinha, de facto, provas irrefutáveis nas quais baseava a constituição
dos McCann como arguidos. Os jornais britânicos, nas suas edições em
papel e online, reproduzem praticamente todos a notícia da Sky News.
Embora o director da Polícia Judiciária, Alípio Ribeiro, tivesse
afirmado na RTP, no próprio dia 10 de Setembro, que a notícia da Sky
News era falsa, Martin Brunt continuou a divulgá-la e prosseguiu, no dia
11. No dia 11 de Setembro, Martin Brunt faz uma inesperada inflexão, no
noticiário das 19h00: em vez de citar fontes da polícia portuguesa,
cita “fontes da Sky News”. Depois das 19h00, Martin Brunt desaparece dos
écrans. Regressa às 04:00 da madrugada de dia 12 de
Setembro (hora a que pouca gente está a ver televisão e, menos ainda,
noticiários...) para, com um ar nitidamente embaraçado, admitir que a
notícia era falsa: “Well, it seems that our news from yesterday was
burnt out...” (" Bem, parece que a nossa notícia de ontem está
'queimada'...") foi a sua primeira frase, nesse noticiário, a que eu
assisti e que citei, na altura, no meu blogue sobre o caso.
O
facto é que o desmentido da notícia veio retirar credibilidade à
justificação para a constituição dos McCann como arguidos, invertendo o
sentir da opinião pública britânica que, mais uma vez, olhava para a
polícia portuguesa como um “bando de incompetentes”.
Não
deixa de ser insólito que o mesmo jornalista que em Maio se queixava de
não ter fontes absolutamente nenhumas que lhe dessem informações sobre a
investigação consiga, poucos meses depois, ter já fontes altamente
colocadas na polícia portuguesa, uma vez que apenas meia-dúzia de
responsáveis da PJ tinham acesso aos relatórios provenientes do Forensic
Science Service.
É mais do que óbvio que a informação
transmitida a Martin Brunt veio de outras fontes, suficientemente
credíveis para ele avançar com o impacto de uma “notícia em primeira
mão”. E a inflexão que é feita, na noite de 11 para 12 de Setembro,
mudando a origem da informação de "fontes da polícia portuguesa" para
"fontes da Sky News" é a prova mais evidente desse facto.
Um
epsiódio curioso, relacionado com aquele notiário da quatro horas da
madrugada de 12 de Setembro ocorreu comigo, no Verão de 2018. Depois de
inúmeras pesquisas na Internet, cheguei à conclusão de que não havia
cópia desse noticiário, nem no YouTube, nem em qualquer dos muitos sites
e blogues que acompanham o caso. Contactei o departamento comercial da
Sky News, solicitando autorização (e cópia do
noticiário) para reproduzir no meu blogue. Numa primeira resposta. A Sky
News referiu que não havia problema – desde que eu pagasse 750 libras,
pelo dreito a reproduzir o vídeo durante um ano. Uma semana depois, para
confirmar a encomenda, mandaram-me um email com o registo do conteúdo
desse noticiário.
Rapidamente verifiquei que esse
registo não correspondia ao noticiário a que eu próprio tinha assistido e
enviei-lhes uma explicação mais detalhada do conteúdo, citando as
primeiras frases de Martim Brunt.
Dois meses depois, a Sky News
informou-me de que não tinha esse noticário nos seus arquivos,
justificando o facto de ter sido uma altura de muito trabalho e confusão
e adiantando que, de alguma forma, as gravações se tinham perdido. O
mesmo aconteceu, aliás com outra gravação que também solicitei ao
departamento comercial da Sky News. Tratava-se daquela que foi, talvez, a
mais ridícula de todas as intervenções de jornalistas britânicos, neste
caso.
Num “directo”, feito diante do Tribunal de Portimão, no
dia em que a investigação foi concluída e o processo entregue ao
magistrado responsável, o jornalista Andrew Wilson começou logo por
afirmar: “A polícia espanhola entregou hoje o dossier da investigação do
caso Maddie ao magistrado responsável (...)”. Foi a primeira e única
vez que apareceu num noticiário a partir da Praia da Luz, regressando
logo a seguir a Londres.
O "Team McCann"
Logo
a partir de dia 4 de Maio, os McCann começam a ter o apoio do melhor
especialista do mundo na gestão de crises mediáticas, Alex Woolfall, que
integra uma equipa enviada pela empresa proprietária do resort, a Mark
Warner. Woolfall trabalhava então para a Bell Pottinger, a maior empresa
mundial do sector de Relações Públicas, empresa essa que tinha um
contrato de apoio e consultadoria com a Mark Warner. O curriculum de
Alex Woolfall, na página da empresa, detalhava a sua especialização:
"ajudar empresas de diversos sectores a responder a casos difícieis e
controversos", gerir "crises resultantes de sabotagem, contaminação
deliberada de produtos, ferimentos e mortes em locais de trabalho,
acusações de fraude, utilização de trabalho infantil e actividades
relacionadas com terrorismo", entre outros. Um dos mais
mediáticos casos em que trabalhou aconteceu em 1999, quando a
multinacinal Monsanto foi acusada de publicidade enganosa, em relação a
produtos geneticamente alterados. Durante duas semanas, Alex
Woolfall toma as rédeas da gestão da campanha mediática dos McCann,
planeando o seu dia-a-dia ao pormenor: a saída matinal, para levar os
gémeos à creche, a difusão de fotografias e vídeos de Maddie, as idas à
Igreja, as conferências de Imprensa e até um simples passeio do casal,
pela praia, de mãos dadas, quando nada havia de novo, para noticiar,
são pormenores dessa campanha que, numa primeira fase, parecia ter
apenas como objectivo manter o nome e a imagem de Madeleine McCann nas
primeiras páginas dos jornais.
Woolfall é substituído
por uma ex-jornalista, assessora de Imprensa do Ministério dos Negócios
Estrangeiros, Sheree Dodd. Este é um dos primeiros sinais de que o caso
da criança desparecida da Praia da Luz terá contornos distintos de
qualquer outro. Pela primeira vez, o governo britânico, então chefiado
por Tony Blair, destaca um funcionário para exercer funções de assessor
de Imprensa dos pais de uma criança desaparecida num país estrangeiro -
algo que nunca tinha acontecido, em situações idênticas. Mais de mémoire d'homme il n'y a pas d'autres enlèvements à l'étranger ! Sheree Dodd vai
"alimentando" os jornalistas britânicos com informações sobre o caso,
tanto em contactos telefónicos como em encontros discretos, com pequenos
grupos, em cafés e restaurantes relativamente longe do Ocean Club. No
entanto, os jornalistas britânicos identificam sistematicamente as suas
fontes de informação como "uma amigo do casal", "alguém próximo da
família" e até, curiosamente, fontes da polícia portuguesa - algo que
nenhum deles tinha, por razões mais do que óbvias.
A 22
de Maio, Sherre Dodd é substituída por um alto funcionário NON il dirige l'observatoire gouvernemental des médias do Ministério
dos Negócios Estrangeiros, Clarence Mitchell, que acompanha os McCann
até meados de Junho. Mitchell era chefe da "Media Monitoring Unit", um
departamento do "Central Office of Information" do governo britânico,
encarregue de recolher e sistematizar toda a informação divulgada pelos media nacionais e internacionais, que fosse necessário chegar ao
conhecimento do Primeiro-Ministro britânico. O departamento tinha cerca
de duas dezenas de funcionários e todos os dias, de manhã, Clarence
Mitchell reunia com o assessor de Imprensa do Primeiro-Ministro
britânico, a fim de analisar e discutir com ele o relatório diário
produzido pelos serviços que chefiava. Quando Clarence Mitchell regressa
ao seu posto, na "Media Monoring Unit", a meio de Junho, os McCann
contratam Justine McGuinness, uma especialista em Relações Públicas, que
se mantém, desde 22 de Junho de 2007, como assessora de Imprensa, até
ao regresso do casal a Inglaterra, em Setembro. Outro especialista em
Relações Públicas, David Hughes, também exerce essas funções, durante um curto período de tempo.
Mas
em Setembro de 2007, Clarence Mitchell demite-se do cargo e passa a
exercer, novamente, as funções de assessor de Imprensa dos McCann, pago
por um dos apoiantes do casal, o milionário britânico Brian Kennedy.
Continuará nessas funções até Agosto de 2016, quando os McCann decidem
prescindir dos seus serviços, por razões financeiras, com os donativos
para o fundo destinado a procurar Maddie a diminuírem substancialmente e
a maior parte do dinheiro acumulado gasto. O jornal
"Expresso", num artigo publicado em 9 de Junho de 2007, explica que a
equipa do "Team McCann", como foi baptizado nos sites e blogues da
Internet, se dividia em dois grupos: um, baseado na Praia da Luz e outro
a funcionar na casa de John McCann, o irmão de Gerry McCann, em
Glasgow, na Escócia. Num artigo publicado a 4 de
Setembro, no "Times", Penny Wark, correspondente do jornal em
Portugal, refere que os McCann têm uma equipa a trabalhar para eles, na
recolha de informações, que inclui elementos a tempo inteiro e em
part-time e que, inclusivé, produz resumos traduzidos da Imprensa
portuguesa. Essa informação servia de base para traçar estratégias de
contra-ataque ou para ajustar tácticas, na mediatização do caso,
essenciamente dirigidas aos media britânicos. Os McCann, aliás, em
relação à Comunicação Social portuguesa, apenas deram uma entrevista à
RTP e falaram, várias vezes, para o semanário "Expresso".
O
papel de Alex Woolfall, depois da sua partida da Praia da Luz,
permanece envolto em algum mistério. O responsável da Bell Pottinger,
Lord Bell, revelou a um jornalista britânico, Owen Jones, que o casal
McCann tinha pago à sua empresa meio milhão de libras para manter o caso
nas primeiras páginas dos jornais, durante um ano. O
pormenor é referido pelo jornalista num livro, "The Establishment: And
how they get away with it" ("O Poder: Como eles se safam", numa tradução
livre...). Alex Woolfall, que hoje tem a sua própria empresa de
Relações Públicas, depois da falência da Bell Pottinger, não respondeu
aos emails que lhe enviei, questionando se, após a saída da Praia da
Luz, continuou a tratar do caso de Madeleine McCann - uma hipótese
lógica, uma vez que era funcionário da referida empresa, esta tinha um
contrato NON com os McCann e Woolfall tinha apoiado o casal durante as duas
primeiras semanas após o desaparecimento de Madeleine McCann, tendo um
conhecimento detalhado do caso. Outro pormenor
interessante é o facto de Woolfall ter vindo a público com uma versão
diferente daquela que foi a convicção incial - e que se manteve, ao
longo dos anos - do casal, em relação ao que tinha acontecedido a
Madeleine. Numa entrevista ao "Times", em 6 de Outubro de 2007, o
especialista de Relações Públicas e gestão de crises garante que, nos
primeiros dias, nunca ouviu qualquer referência, por parte dos McCann, à
ideia de que Madeleine teria sido raptada: "Durante as primeiras 48
hora, a palavra usada era 'desaparecida', em vez de 'raptada' ou de
qualquer ligação com pedofilia ou outro tipo de crime. Perto do final da
segunda semana, comecei a aperceber-me de uma mudança em direcção à
ideia de que provavelmente ela [Maddie] teria sido levada em vez de ter
saído sózinha [do apartamento], apenas com base no facto de que, sendo
assim, ela já teria sido encontrada".
De recordar que o
casal, nas primeiras conversas com familiares, ainda na noite de 3 para 4
de Maio, salientou logo o pormenor - falso, como se veio a verificar -
de as persianas do quarto de Maddie terem sido arrombadas, o que abria a
porta à tese do rapto. Kate McCann, em diversas entrevistas, afirmou
claramente que nunca, nem por um segundo colocou a hipótese de Maddie
ter saído, por sua inicativa, do apartamento, quando entrou o quarto e descobriu que ela tinha desaparecido. O
facto é que, entre Maio e Setembro, os media britânicos são
"alimentados" com histórias e pormenores idênticos, que parecem surgir
do mesmo guião, por vezes quase em simultâneo, reforçando
sistematicamente a tese do rapto, acusando a polícia portuguesa de
incompetência e retratando Portugal como um paraíso de pedófilos, onde
as suas redes operavam livremente, com a protecção, a cumplicidade e até
a participação de políticos, juízes e polícias. Kate
McCann ajuda a perceber qual a postura dos responsáveis dos media
britânicos, ao revelar, no livro que escreveu sobre o desaparecimento da
filha, que a directora do "Sun", numa conversa telefónica, lhe
garantiu que nunca haveria notícias negativas sobre o casal.
A
campanha mantém-se ao longo dos anos, garantindo que havia sempre mais
uma história sobre a incompetência da polícia portuguesa, uma nova
testemunha que sabia o que tinha acontecido a Maddie ou sobre as
alegadas "bebedeiras" de Gonçalo Amaral, durante o almoço, um tema
recorrente. O próprio casal McCann participa activamente nessa campanha difamatória, com declarações e comentários totalmente falsos. É o caso de Kate McCann que, na edição de 9 de Setembro de 2007 do “News of the World” acusa a polícia portuguesa de estar a tentá-la “incriminar falsamente”, querendo obrigá-la a mentir, isto porque, explica, “a Polícia Judiciária já não tem dinheiro para continuar a investigação e quer colocar-lhe fim”. Outra razão, adianta a mãe de Maddie, é porque as autoridades portuguesas “não quererem um caso de homicídio em Portugal e toda a publicidade em torno do facto de não terem [em Portugal] leis contra a pedofilia, por isso é que nos querem inculpar”.
A 7 de Setembro, Ed Smart, um cidadão norte-americano cuja filha tinha sido raptada
e encontrada oito meses depois e que se tinha tornado amigo de Gerry
McCann, refere uma conversa telefónica com o o pai de Maddie, no
programa da CNN “Larry King Live”, onde este lhe afirmou que “não
ficaria surpreendido com o facto de eles [a polícia portuguesa]
plantarem provas no carro.” Também numa entrevista à
CNN, a 8 de Outubro de 2007, Gerry McCann grante que a polícia foi
chamada “quase imediatamente”, logo a seguir a Kate ter descoberto que a
filha não estava no quarto. Os registos telefónicos da esquadra da GNR
de Portimão – que, aliás, constam do processo – provam que o telefonema a
alertar para a ocorrência foi feito apenas cerca de 50 minutos depois. Uma
manipulação mais recente surgiu em Abril de 2017, quando a ama NON que
tomava conta de Maddie, na creche do Ocean Club, deu uma entrevista, sob
anonimato, ao jornal “The Telegraph”, reproduzida em todos os Media
ingleses. A jovem descreve um autêntico cenário de horror, em
redor do Ocean Club, em matéria de segurança, afirmando que a própra
gerência do “resort” deu a todas as amas apitos, para utilizarem no caso
de serem vítimas de tentativas de violação, aconselhando-as a nunca
andarem sózinhas, nas ruas da Praia da Luz, à noite e alega que a
polícia só chegou 90 minutos depois de ter sido chamada.
O
facto é que a GNR de Portimão não tem qualquer registo de tentativas de
violação, naquela zona nem recebeu, como seria natural, qualquer pedido
da gerência do Ocean Club para reforçar a segurança. A Praia da Luz,
onde reside uma comunidade inglesa de reformados bastante grande, é uma
zona calma, em matéria de crime, de acordo com as autoridades policiais,
mesmo durante o Verão. Na época baixa, não há praticamente registo de
quaisquer ocorrências. A Mark Warner, que já não é
proprietária do “resort” recuou-se a confirmar ou desmentir este
episódio da entrega de apitos de alerta, em resposta a um email que lhes
enviei. Quanto ao alegado atraso na chegada da polícia, é claramente
desmentido, quer pelos próprios agentes, que por uma série de outras
testemunhas, nomeadamente trabalhadores do Ocean Club, inquiridos pela
PJ – a GNR chegou ao local cerca de 20 minutos depois de ter sido
alertada, informação que também consta do processo.
“A Batalha perdida - Uma "campanha perfeita", nos Media tradicionais, completamente destruída na Internet
Tudo
o que foi publicado sobre o caso Madeleine McCann encontra-se
facilmente na Internet, devido a um fenómeno que terá escapado
completamente às previsões dos responsáveis pela campanha em torno do
desaparecimento da criança. Ils ont vu les avantages, mais pas les effets pervers. Desde 3 de Maio de 2007, dezenas,
primeiro, centenas, depois e, talvez milhares de pessoas, actualmente –
gente comum, a maioria britânicos – têm dedicado o que eu julgo ser uma
parte substancial do seu tempo livre a recolher, gravar e colocar nos
seus sites e blogues todos os artigos da Imprensa britânica e
transcrições de notícias das estações de televisão, sobre o caso
Madeleine McCann. Há mais de uma dúzia de sites onde estão, por exemplo,
todos os artigos de jornais britânicos que foram “apagados” ou
colocados fora do acesso público, e que ali se encontram, reproduzidos
na íntegra e organizados cronologicamente ou por temas e divididos por
publicação. Plus d'une douzaine, non, mais trois ou quatre, oui. Dommage que PR n'y fasse pas référence sous forme de lien.
Haverá, seguramente, largas centenas NON de blogues onde o caso ainda hoje continua a ser analisado, discutido e comentado, minuciosamente – e alguns desses blogues têm uma qualidade excepcional, em termos de análise. Há dezenas de fóruns, onde milhares NON de pessoas, comentam o caso, diariamente, e trocam informação. Este fenómeno que surgiu na Internet não abrange apenas o que foi publicado e emitido pelos media britânicos. Graças ao esforço de largas dezenas de portugueses, alguns deles tradutores profissionais NON, praticamente todo o conteúdo do processo da investigação levada a cabo pela PJ, que foi distribuído, emCD DVD, aos jornalistas, em
2008, por decisão do Tribunal de Portimão, está traduzido para Inglês e
disponível na Internet. O mesmo aconteceu (e continua a acontecer) com
as notícias dos media portugueses que, dois, três dias depois de virem a
lume, têm a sua versão em língua inglesa, disponível em largas dezenas
NON de blogues, sites e fóruns (por exemplo, no blog de Joana Morais, senão o
melhor, talvez dos melhores que existem sobre o tema, com a mais
completa informação disponível). E tudo isto acontece
porquê? Este fenómeno específico da forma como o caso ocupa tanto
“espaço” na Internet, começa devido a uma primeira reacção dos cidadãos
britânicos que, nas habituais caixas de comentários que esses jornais
tinham, no final dos artigos colocados online, criticavam, de forma
geral, o que consideram ter sido um tratamento preferencial dado aos
McCann, pela polícia portuguesa. Muitos desses
comentários, que eu acompanhei, salientavam que, se o caso tivesse
acontecido no Reino Unido e, em vez de um casal de médicos fossem marido
e mulher de classe média-baixa, que deixassem crianças a dormir em casa
e fossem beber um copo ao “pub” da esquina, a 50 metros, eram
imediatamente formalmente acusados do crime de abandono de crianças e
não escapavam
a uma pesada multa ou a uma pena de prisão suspensa, com uma séria
advertência do tribunal, para não repetirem a situação.
Haverá, seguramente, largas centenas NON de blogues onde o caso ainda hoje continua a ser analisado, discutido e comentado, minuciosamente – e alguns desses blogues têm uma qualidade excepcional, em termos de análise. Há dezenas de fóruns, onde milhares NON de pessoas, comentam o caso, diariamente, e trocam informação. Este fenómeno que surgiu na Internet não abrange apenas o que foi publicado e emitido pelos media britânicos. Graças ao esforço de largas dezenas de portugueses, alguns deles tradutores profissionais NON, praticamente todo o conteúdo do processo da investigação levada a cabo pela PJ, que foi distribuído, em
Há, de facto, inúmeros exemplos deste género de casos, no Reino Unido e é publico e notório que tanto a polícia como a o sistema judicial britânicos são extremamente duros nesta matéria. A onda de comentários negativos e ataques aos McCann, inicialmente apenas por aquilo que era considerado uma negligência inaceitável por parte dos pais – deixar uma criança de três anos a “tomar conta de dois bebés”, como referia, ironicamente, um desses comentários – fez com que os jornais britânicos, nas suas edições online, começassem a fechar essas caixas de comentários, depois de 50 ou 100 opiniões lá terem sido colocadas. A seguir, a maioria das publicações optou por abolir, pura e simplesmente, as caixas de comentários, nos artigos sobre Madeleine McCann. Sem forma de manifestar publicamente a sua opinião, muitos NON desses leitores de jornais optaram por criar os seus próprios blogues e, daí até ao surgimento dos primeiros fóruns de discussão, foi um passo rápido. À medida que a investigação - e a campanha difamatória – foi prosseguindo, maior desconfiança se começou a gerar, entre os muitos cidadãos britânicos que acompanhavam de perto o caso. Rapidamente se começaram a “desmontar”, com a ajuda de “blogers” portugueses que escreviam em Inglês, nesses blogues e fóruns, as frequentes falsificações e manipulações de factos, que surgiam quase diariamente nos jornais britânicos.
Para além da pergunta que milhôes de pessoas, por todo o mundo fazem, em relação a este caso – o que é que aconteceu a Maddie? - outra questão está, também, ainda sem resposta: por que razão os media britânicos, com especial destaque para a imprensa, alinharam numa campanha tão violenta contra a polícia portuguesa e contra Portugal, recorrendo a toda a espécie de “truques baixos”, inventando factos, manipulando e distorcendo a realidade? Que poderes e que interesses estão por detrás dessa campanha difamatória?
Ça n'en a pas l'air, mais c'est la fin !