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"Grâce à la liberté dans les communications, des groupes d’hommes de même nature pourront se réunir et fonder des communautés. Les nations seront dépassées" - Friedrich Nietzsche (Fragments posthumes XIII-883)

Buried by MSM (PT) Richard D Hall

 

 

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A Tempestade Inicial (The Initial Storm, 46')

Parte 1

Esta série de filmes foi investigada e apresentada com a intenção de fornecer uma versão verdadeira dos factos relacionados com Madeleine McCann. Se alguém tiver provas que traga informação nova à luz do dia, nós encorajámo-lo a contactar-nos através do e-mail do produtor richard@richplanet.net. Se a informação que você enviar for relevante e bem fundamentada, nós então consideraremos modificar os nossos documentários.
Com o interesse de espalhar a verdade, nós incentivámos todos a criarem cópias de DVD destes filmes e distribuí-los livremente. Nós damos permissão para todos descarregarem estes filmes na Internet e exibi-los em qualquer plataforma que você escolher.

Programa 1 – A Tempestade Inicial
 
ENTERRADA PELA COMUNICAÇÃO SOCIAL: A Verdadeira História de Madeleine McCann
 
Richard Hall: Bem-vindo! Eu sou Richard D. Hall e estou aqui em Portugal, Praia da Luz. A razão pela qual eu vim aqui é porque eu estou a fazer uma série de documentários sobre o caso Madeleine McCann. Porque é que eu estou a fazer programas sobre isso? Bem, é porque eu estou farto de ver títulos de notícias enganadores sobre o incidente. Nestes filmes, eu irei expor os factos sobre o incidente e também o que aconteceu desde então. Os documentários mostram claramente que o último sítio para obter informação verdadeira é a comunicação social e também irei expor aqueles que controlam a comunicação social.
 
Narração (Richard Hall): Madeleine McCann. A menina britânica de 3 anos censée avoir été ! raptada por um estranho, entre as 21:00 e 22:00, numa quinta-feira de 3 de Maio de 2007. Tornou-se num dos mistérios mais persistentes da nossa época. Até mesmo o porta-voz omnipresente do casal McCann, Clarence Mitchell, de quem ouviremos falar neste documentário, admitiu em 2007, que o desaparecimento dela continuava a ser “um mistério completo”. Sob lei britânica, uma pessoa que se encontra desaparecida durante sete anos ou mais poderá ser declarada falecida. O tribunal tem o poder, sob requerimento de um familiar ou outra pessoa interessada, para declarar que uma pessoa desaparecida tem de ser considerada como falecida. Os McCanns arrecadaram milhões de libras para procurar a Madeleine. Os McCanns gastaram milhões em agências de detetives privados. Os McCanns gastaram mais milhões em assessores de relações públicas e advogados. Após todo este tempo, parece que nem sequer estamos um pouco próximos de saber como Madeleine McCann desapareceu e o que lhe possa ter acontecido.

É uma história que vendeu milhões de periódicos sensacionalistas e até hoje, divide as pessoas profundamente, até mesmo dentro do círculo familiar. Por um lado, temos os McCanns. A sua frota de especialistas de relações públicas e advogados e Scotland Yard, cuja revisão e investigação já durou quase três anos presque 10 ans fin 2020 e custou por volta de sete milhões de libras. 13 millions. A opinião deles é clara – Madeleine foi raptada da sua cama por um estranho, a investigação portuguesa foi desleixada e incriminou-os erradamente, e o Procurador-Geral português inocentou-os. Eles continuam todos a busca pela Madeleine, esteja ela viva ou morta. Mas os McCanns enfrentam uma enorme oposição – o detetive português que investigou o desaparecimento de Madeleine, chamou os McCanns para interrogatório e declarou-os suspeitos no desaparecimento da sua própria filha. Ele escreveu um livro sobre o caso, intitulado “A Verdade da Mentira”. Ele afirmou que as provas sugeriam que Madeleine tinha morrido no apartamento dos pais dela, e que os McCanns planearam esconder o corpo dela e afirmar falsamente que ela tinha sido raptada. Muitos concordam com ele, particularmente o ex-detetive John Stalker, que liderou a investigação da política controversa “Dispara a matar” da Polícia Real de Ulster. Já em 2007, ele declarou: “Os McCanns estão a esconder um grande segredo”.

Uma das minhas fascinações sobre este caso é porquê a comunicação social está tão relutante em discutir os detalhes. Na televisão, a versão dos McCanns é raramente questionada em profundidade. Eles, de certa forma, recebem uma plataforma, apesar das questões incómodas que existem. Nesta série de documentários, examinaremos os factos em maior detalhe do que alguma vez feito em qualquer filme. O material irá, inevitavelmente, suscitar perguntas e isso é a sua intenção. O meu objetivo é lançar luz sobre áreas secretas e escuras que a comunicação social não se atreve a abordar.

Na primeira e segunda parte, nós iremos examinar as duas áreas principais de provas que levaram os McCanns a serem interrogados. Primeiro de tudo, as mudanças das versões e as contradições. Em segundo lugar, a informação fornecida por dois cães policiais, treinados pelo especialista mundialmente reconhecido, o Sr. Martin Grime, que agora trabalha para o FBI.

Iremos dar uma vista de olhos ao histórico controverso da agência de detetives, empregados pelos McCanns. E finalmente, iremos investigar a quantidade extraordinária de ajuda de alto nível que os McCanns tiveram por parte do governo britânico e os seus serviços de inteligência. Na segunda parte, abordaremos alguns destes temas em maior detalhe, focando-nos em muitas das mudanças de versões e contradições no caso, procurando analisar e explicar porque é que existem tantas.
 
[INÍCIO]
 
Narração: Comecemos por uma vista de olhos a uma importante alteração de versões - de como o raptor teve acesso ao apartamento e uma contradição crucial, as versões contraditórias de uma visita que se alega ter sido feita pelo amigo dos McCanns, Dr. David Payne, a Kate McCann por volta das 18:30, no dia em que foi reportado o desaparecimento de Madeleine.

Portanto, qual foi a versão original que os McCanns deram à imprensa? Recordemos que foi uma história internacional que se desenvolveu com grande velocidade. De acordo com os McCanns, o desaparecimento de Madeleine foi notado por volta das 22:00 a 3 de Maio de 2007. Entre meia hora e uma hora depois, eles reportaram o desaparecimento à receção do Ocean Club, que por sua vez, informou a polícia. Às 7 horas da manhã do dia seguinte, apenas 9 horas depois, a comunicação social britânica já reportava este desaparecimento misterioso. Alguns deles receberam informação diretamente dos amigos dos McCanns, como Jill Renwick, uma amiga do antigo primeiro-ministro Gordon Brown e a sua mulher. Durante as primeiras horas da manhã de sexta-feira, a imprensa britânica convocaram os seus repórteres estrangeiros para a vila portuguesa de Praia da Luz, como Jon Clarke, o editor do periódico espanhol “The Olive Press”, que envia artigos para “The Sun” e o “Daily Mail”. Ele foi chamado na madrugada de sexta-feira e realizou uma viagem de 5 horas, da sua casa em Ronda, Espanha, para estar em Praia da Luz antes do meio-dia. Foi um frenesim mediático internacional desde o primeiro dia.

Uma destas primeiras reportagens foi realizada pela BBC, que transmitiu os comentários de Trish Cameron, irmã de Gerry McCann. A BBC reportou que a Srª Cameron tinha recebido uma chamada telefónica do seu irmão de 39 anos, um consultor cardiologista, que estava “histérico e a chorar”, assim ela o disse.

Trish Cameron: A última verificação às 21:30, eles estavam todos a dormir, com as janelas e as persianas fechadas. Kate regressou às 22:00 para verificar. A porta principal estava aberta, a janela tinha sido manipulada, as persianas foram forçadas e Madeleine não estava lá.

Narração: Não há qualquer dúvida que esta foi a história que os McCanns queriam que a imprensa relatasse. Um raptor, assim o afirmaram, teria entrado pelas persianas e janelas, usando um pé-de-cabra, e teria levado a Madeleine do seu apartamento de férias. “The Guardian” publicou a seguinte versão do pai de Kate McCann, Brian Healy:

“Gerry disse-me que quando regressaram, as persianas do quarto estavam forçadas, elas tinham sido abertas com um pé-de-cabra e ela tinha desaparecido.”

O “Mirror” e “The Times” publicaram ambos um artigo do padrinho de Madeleine, cineasta John Corner, que disse que Kate McCann lhe tinha telefonado a meio da noite. Ele disse que ela simplesmente balbuciou que Madeleine tinha sido raptada. Kate disse que as persianas do quarto estavam destruídas, Madeleine não estava lá e parece que alguém tivesse passado diretamente pelos gémeos para a agarrar.

Uma amiga da família, Jill Renwick, disse à “GM TV” e ao “The Independent” que eles estavam simplesmente a vigiar o quarto do hotel e regressando a cada meia hora, e as persianas tinham sido forçadas e que tinham entrado no quarto e levado a Madeleine.

Portanto, os McCanns deram esta versão a quatro pessoas diferentes. O país foi o primeiro a ser informado de que tinha havido um assalto violento, tendo as persianas sido forçadas com um pé-de-cabra. Segundo, que a porta principal tinha sido fechada à chave, mas que agora estava aberta, e terceiro – é claro – que Madeleine tinha sido raptada.

Mas em apenas 24 horas, a versão inicial dos McCanns mudou dramaticamente em vários aspetos importantes. Eu explicarei como essas mudanças ocorreram.

Para começar, examinaremos o primeiro depoimento de Gerry McCann como testemunha, realizado justamente no dia seguinte, a sexta-feira de 4 de maio. Ele disse que durante a noite, tanto ele como a sua esposa verificaram os seus filhos, usando uma chave para abrir a porta principal do apartamento. Ele explicou como a sua mulher, Kate, descobriu que Madeleine tinha desaparecido durante a sua verificação às 22:00 e como ele correu para o apartamento e encontrou a janela do quarto das crianças aberta, as persianas subidas e as cortinas abertas. Agora não havia menção da porta principal estar aberta. Kate, que foi quem deu o alerta, e portanto entrou no apartamento antes de Gerry, disse exatamente o mesmo sobre o quarto dos filhos – a janela aberta, as persianas subidas e as cortinas abertas. Ela adianta que tinha certeza de que estava tudo fechado quando eles saíram às 20:30 naquela noite para jantar no restaurante Tapas.

Um ponto interessante a destacar é que, embora Gerry tivesse sido entrevistado sozinho pela polícia, Gerry e os seus conselheiros persuadiram a polícia para se sentar atrás de Kate enquanto ela estava a ser entrevistada. Um privilégio estranho. Na página 91 do seu livro sobre o caso, intitulado “Madeleine”, ela escreveu: “Gerry punha a mão sobre o meu ombro, de vez em quando, ou dava-me um aperto de garantia.”

Mas a afirmação da janela aberta, de persianas subidas e forçadas e as cortinas abertas foi descredibilizada horas após Kate e Gerry prestarem as suas declarações. “The Independent”, por exemplo, citou John Hill, gerente do Ocean Club na Praia da Luz, dizendo que, apesar da informação de um amigo da família, de que as persianas do apartamento do casal estavam partidas, não havia nenhum vestígio de que alguém tivesse forçado a entrada, enquanto os McCanns jantavam no restaurante Tapas. Ainda é questionável se ocorreu um rapto.

Depois, o inspetor-chefe Olegário Sousa, o porta-voz da investigação, disse ao detetive britânico, o inspetor Curvy, que as janelas e a persiana não tinham sido forçadas, acrescentando que o seu mecanismo faz com que seja quase impossível de as abrir pelo exterior. Mais tarde, imagens da polícia a examinar as persianas tornaram-se públicas, deixando bastante claro que as persianas não estavam danificadas. Não havia nada que corroborasse as afirmações de Gerry e Kate, apenas horas após ter sido denunciado o desaparecimento de Madeleine, de que as persianas tinham sido abertas com um pé-de-cabra. 

E seguiu uma mudança de versões ainda mais dramática, quando foi solicitado aos McCanns para prestarem um segundo depoimento à polícia, a 10 de maio, 6 dias depois. Apesar de Gerry ter dito claramente à polícia que, durante aquela noite, eles tinham verificado as crianças ocasionalmente, entrando pela porta principal usando uma chave para entrar. Agora eles garantem que isto não era verdade. Em vez disso, eles afirmaram que entraram pela porta do pátio, deixando-a destrancada. A afirmação deles, de que a entrada tinha sido forçada por um raptor, através do quarto das crianças, provou-se ser falsa. Agora, eles tinham de explicar rapidamente como é que o suposto raptor entrou no apartamento. 

Podemos ver o que Gerry disse no seu segundo e mais longo depoimento. O relatório da polícia nota: “Apesar do que referiu nas suas declarações anteriores, refere agora e tem a certeza, que saiu com Kate pela porta das traseiras, que consequentemente ficou fechada, mas não trancada, uma vez que tal só é possível pelo interior”. Além disso, Gerry acrescenta que estava seguro que tinha fechado a porta principal, mas garantiu que era “pouco provável que estivesse fechada à chave”.

Parte 2

Narração: Teve de ser o documentário televisivo “Procurando a Madeleine” por “Dispatches”, a 18 de outubro de 2007, que trouxe uma admissão formal por parte de Gerry e Kate McCann e o seu porta-voz, que o raptor não podia ter entrado no apartamento através da janela do quarto das crianças. O programa demonstrou efetivamente que não havia qualquer maneira de que alguém conseguisse assaltar o apartamento e não deixar nenhum rastro forense ou dano às leves persianas de alumínio, que estavam cobertas com um revestimento fino de pintura poliuretano, que deixa marcas com grande facilidade. David Barkley, o ex-diretor das provas físicas do Departamento Nacional de Crimes e Operações do Reino Unido, foi citado no programa. Ele disse: 

David Barkley: Devemos ser bastante cuidadosos, nós não estamos a dizer que isto é, na verdade, uma encenação, mas é difícil ver como é que alguém podia ter manipulado aquelas persianas pelo exterior sem deixar rastro. De facto, da maneira como as vimos, eu creio que é quase impossível. 

Narração: Logo após o programa, que se mostrou bastante cético da versão dos McCanns, o porta-voz deles, Clarence Mitchell, prestou uma declaração impressionante, a qual eu reproduzo na íntegra, exatamente assim citada no “The Independent”.

O artigo do “The Independent” contou aos seus leitores: “O porta-voz da família de Madeleine McCann reverteu uma declaração feita nos primeiros dias da busca pela criança desaparecida. No início da busca, amigos e familiares disseram aos jornalistas que as persianas do apartamento onde os McCanns estavam alojados tinham sido forçadas”. Depois, eles citaram o Mitchell: “Não havia nenhuma prova de uma entrada forçada. Eu não vou entrar em detalhes, mas eu posso dizer que Kate e Gerry estão firmemente convencidos de que alguém entrou no apartamento e levou a Madeleine pela janela como meio de fuga. E para fazer isso, eles não tiveram necessariamente de forçar algo, eles saíram pela janela com facilidade”. Os McCanns já nos tinham pedido para acreditar que eles tinham cometido um erro genuíno quando inicialmente disseram à polícia que entravam no apartamento pela porta principal. Agora, eles faziam uma declaração que muitas pessoas acharam difícil de engolir. 

Eles agora sugeriam ousadamente, através do seu porta-voz, que o raptor misterioso entrou tranquilamente pela porta do pátio. Depois, ele supostamente tirou a Madeleine da sua cama e, assim como o porta-voz deles disse, levou-a pela janela como meio de fuga. Além disso, ninguém, exceto uma amiga próxima dos McCanns que estava com eles de férias, viu qualquer raptor ou ouviu qualquer raptor. Se realmente tivesse existido um raptor a levar uma criança pela janela do quarto das crianças, não deixou qualquer rastro forense para trás. A janela do quarto das crianças era bastante pequena, por volta de 80cm x 80cm. É difícil de imaginar como um raptor tivesse passado pela janela, com uma criança, sem a acordar. Mais concretamente, porque é que o raptor misterioso decidiria sair pela janela, quando ele já sabia que podia simplesmente sair pela porta destrancada do pátio, ou pela porta principal, que estava destrancada.

Os McCanns tinham agora outro problema: como é que podiam explicar um raptor entrando livremente pelo apartamento deles através de uma porta e decidindo depois sair por uma janela pequena, com uma criança ao colo. Eventualmente, os McCanns encontraram uma explicação, no entanto esta explicação demonstrou ser ainda mais bizarra do que as anteriores. Em 2010, os McCanns estiveram envolvidos num julgamento por difamação durante 3 dias em Portugal. Este foi um pedido de indemnização ao autor e editores do livro sobre o caso, pelo inspetor-chefe Gonçalo Amaral, que coordenou a investigação inicial do desaparecimento de Madeleine. Alguns testemunhos foram prestados durante esse julgamento que os realmente envergonhou.

Abordando as janelas e persianas abertas, Kate McCann disse à comunicação social a 14 de janeiro: “Em relação à janela, eu descrevi à polícia exatamente o que encontrei naquela noite, como estava e é bastante relevante. Eu sabia que qualquer pequeno detalhe podia ser importante para encontrar a minha filha. A janela, que é do andar térreo, estava completamente aberta e é suficientemente larga para uma pessoa sair por ela. Se foi aberta por este objetivo é um mistério. Poderia, claro, ter sido aberta pelo perpetrador dentro do apartamento, como uma potencial via de fuga ou deixada aberta como uma pista falsa”.

Os McCanns sugeriram seriamente que um raptor podia ter entrado por uma das portas destrancadas da propriedade, e aberto a janela e as persianas do quarto das crianças como terceiro meio de fuga ou, ainda mais bizarro do que isso, abriu-as apenas para confundir os investigadores.
De certa forma, o livro de Kate “Madeleine” surgiu com um cenário ainda mais ridículo, na página 131. Ela escreveu: “Se calhar [o raptor] tinha entrado ou saído pela janela, não ambas as coisas; talvez ele não a usou de todo mas abriu-a para preparar uma via de fuga de emergência caso fosse necessário, ou apenas para confundir os investigadores. Ele podia ter estado dentro e fora do apartamento mais do que uma vez entre as nossas visitas. O que nós agora acreditámos é que o raptor tinha estado no quarto, muito provavelmente antes da verificação do Gerry”. Todos estes cenários são, no mínimo, altamente improváveis.

Daqui a pouco, eu terminarei esta secção na mudança de versões iniciais, ao dar uma vista de olhos detalhada nas afirmações prestadas pela Kate McCann sobre o que ela viu e fez quando entrou no apartamento naquela noite e diz ter descoberto que Madeleine tinha desaparecido.

Mas antes disso, eu mencionei o porta-voz dos McCanns, Clarence Mitchell, uma ou duas vezes. Espero dizer muito mais sobre ele e o papel do governo em ajudar os McCanns numa futura ocasião. Mas por agora, permita-me dizer algumas coisas pertinentes sobre ele. Na altura em que se reportou o desaparecimento de Madeleine, Mitchell era diretor da poderosa máquina dos media do governo de Blair, a Unidade de Monitorização dos Media, na Oficina Central de Informação, conhecida por muitos como a Oficina Central de Desinformação. Com um salário de mais de 100 mil libras, ele dirigia um poderoso departamento de manipulação da comunicação social, que custava aos contribuintes vários milhões de libras por ano. Depois de ter estado a trabalhar para os McCanns durante um ano, ele gabou-se perante um periódico português, o “Expresso”, dizendo que o seu trabalho era “controlar o que saía nos media”. Antes de se tornar no porta-voz dos McCanns, ele trabalhou para a BBC durante vários anos, abordando os maiores crimes da época, os assassinatos de Fred e Rosemary West, os assassinatos em Soho de Jessica Chapman e Holly Wells e o assassinato de Jill Dando, para mencionar apenas três. Porque é que um chefe bem pago da temida Unidade dos Media de Tony Blair, comunicando diretamente com o gabinete de 10 Downing Street, foi encarregado de gerir a tempestade mediática sobre o caso de Madeleine McCann no dia 6 de maio de 2007, apenas três dias após o desaparecimento de Madeleine? O que é que aconteceu que fez com que o governo britânico, apenas 16 dias após isso, o transferisse para o Gabinete dos Negócios Estrangeiros e o enviasse para Praia da Luz, Portugal, onde ele permaneceu até os McCanns terem regressado à sua casa em Inglaterra, depois da polícia portuguesa os declarar ambos suspeitos formais do desaparecimento de Madeleine.

Nesse mês, Setembro de 2007, Clarence Mitchell teve permissão para abandonar o seu bem renumerado cargo de funcionário público, de forma a poder trabalhar a tempo inteiro para os McCanns. Durante o ano que se seguiu, ele estava detrás de cada história sobre Madeleine que aparecia na primeira-página dos periódicos britânicos. Muitas delas eram histórias aparentemente fabricadas pelo Mitchell. Aparecia uma história atrás da outra, e referência a suspeitos, pessoas de interesse e pessoas que “queremos localizar para eliminá-los da nossa investigação”, acompanhadas por retratos-robô sinistros de uma variedade de pessoas que afirmaram os terem vistos a rondar a aldeia de Praia da Luz, na altura em que os McCanns estavam lá. Nada resultou de todas estas histórias, tal como sabemos, mas Mitchell teve êxito no seu objetivo de manter a ideia na cabeça do público, de que Madeleine tinha sido raptada e poderia estar viva. Mas o que Mitchell fez desde que deixou de trabalhar a tempo inteiro para os McCanns, em setembro de 2008, também é muito interessante.

Continuou a trabalhar a tempo parcial para os McCanns, baseado num adiantamento que, segundo se diz, tem o valor de 30 mil libras por ano. Mas obteve imediatamente um trabalho como gestor de reputação em “Freud International”. Essa empresa é possuída e dirigida por Matthew Freud, o genro do magnata dos media, Rupert Murdoch. Tornou-se aparente que Mitchell estava estritamente relacionado com o império de Murdoch. Em 2009, o David Cameron reuniu-se com Rupert Murdoch no iate do Murdoch no mediterrâneo. Ele viajou até lá no avião privado de Matthew Freud. Semanas após esse encontro histórico, tendo Murdoch dito aos seus periódicos como “The Sun” e “The Times” para apoiar os trabalhadores, agora mudou drasticamente de lado e começou a apoiar os conservadores de Cameron, para vencer as eleições gerais de 2010, o que conseguiram, ainda que não obtiveram uma maioria absoluta.

Mais ao menos na mesma altura, Cameron contratou Andy Coulson, ex-diretor do “News of the World”, outro periódico de Murdoch, como seu diretor de comunicações. Coulson, claro, tem estado envolvido no longo julgamento das escutas telefónicas no Tribunal Central Criminal, acusado de pagar ilegalmente a policiais de alto nível para conseguir histórias sensacionalistas, e piratear ilegalmente os telefones das pessoas.

Em março de 2010, Cameron e Coulson nomearam Mitchell vice-diretor de comunicações para ajudar a controlar os media, para ganhar as eleições gerais aos conservadores. Assim aí tínhamos uma equipa composta por Cameron, um amigo pessoal e vizinho de Rebecca Brooks, que na altura era diretora executiva do império mediático internacional de Murdoch, o Coulson, ex-diretor de um dos periódicos de Murdoch, e Clarence Mitchell, chefe de controlo dos media para o Blair e recentemente nomeado consultor de relações públicas para uma empresa possuída e dirigida pelo genro de Murdoch. Portanto, Mitchell era um homem que se movia nas mais altas organizações da classe política e dos media britânicos. Porque é que foi necessário para que lhe fosse oferecido um trabalho a tempo inteiro como agente de relações públicas dos McCanns, apenas três dias após a Madeleine ter desaparecido? Afinal de contas, tanto quanto se sabia na altura, Madeleine podia ter sido encontrada a qualquer momento. E a contribuição de Mitchell ao caso, custando centenas de milhares de libras durante os últimos sete anos, levou à descoberta de algo útil sobre o que realmente aconteceu a Madeleine? A resposta a isso, até agora, é NÃO.
 
Mas retornemos ao assunto concreto que temos para falar, as mudanças de versões dos McCanns nas suas primeiras declarações à polícia portuguesa. Investiguemos isto em maior detalhe.

Na sua entrevista de maio de 2009, Kate McCann deu a sua primeira descrição detalhada do que ela encontrou quando foi verificar as crianças, por volta das 22:00 a 3 de maio de 2007. Entre outras coisas, ela menciona o que ela diz ser o brinquedo favorito de Madeleine. Um peluche cor-de-rosa, chamado “Cuddle Cat” (Gato Carinhoso). Isto foi o que Kate McCann disse:

Kate McCann: Eu fiz a minha verificação por volta das dez da noite, e entrei pela porta do pátio e na verdade, eu simplesmente parei e pensei: “Oh, tudo calmo”. E para ser honesta, eu talvez estava tentada a virar para trás na altura, mas eu reparei que a porta, a porta do quarto onde as três crianças dormiam, estava muito mais aberta do que a tínhamos deixado. Eu fui fechá-la, mais ou menos até aqui, e assim que chegou aqui, bateu repentinamente. E assim que eu a abri, foi quando pensei dar uma vista de olhos às crianças. Vi Sean e Amelie nos seus berços e depois, estava a olhar para a cama da Madeleine, que estava aqui, e estava escuro, e olhava e pensava: “Será que era a Madeleine ou a roupa da cama?”. Eu não conseguia distinguir. Parece bastante estúpido agora, mas na altura pensava, “Não quero acender a luz, porque não quero acordá-los”. E literalmente, assim que voltei a entrar, as cortinas do quarto que estavam fechadas, “whosssh!”, como uma espécie de rajada de vento simplesmente abriu-as com um sopro. E o Cuddle Cat continuava lá, num rosa-negro, ainda estava lá… quero dizer, eu sabia imediatamente que ela… tinha sido raptada, sabe…

Narração: Estudando isto em maior detalhe, primeira ela diz que a porta estava “muito mais aberta do que a tínhamos deixado”. Ela quer dizer “muito mais aberta do que quando deixámos as crianças às 8 e meia da tarde, quando saímos para jantar”. Esta declaração é uma completa estupidez, por esta razão: Kate pode se ter lembrado, assim o diz, de ter deixado a porta ligeiramente aberta quando saíram para o restaurante às 20:30, mas sabemos, de acordo com as declarações deles, que entretanto outras duas pessoas tinham estado no apartamento, o seu marido Gerry após as 21:00, e o seu amigo, o Dr. Matthew Oldfield. Portanto, ela não tinha nenhuma forma de saber como estes dois tinham deixado a porta do quarto das crianças. As cortinas estavam fechadas quando saíram, ela diz. Depois dizem que uma rajada de vento soprou as cortinas para dentro do quarto. No entanto, fotografias exibidas publicamente pela polícia portuguesa mostram uma das duas cortinas encostada à parede num lado da cama abaixo da janela. A outra é vista detrás duma cadeira de braços. Isso é um sinal de que as cortinas deviam ter sido colocadas nessa posição por alguém. Além disso, as cortinas que voam no vento, não acabam repentinamente 50 ou 60 cm de distância, como podemos ver na fotografia da polícia. Elas estão dobradas, o que significa que, na verdade, alguém as deve ter aberto. A cortina da direita está mais aberta do que a da esquerda. Não foi uma rajada de vento que fez isto.
 

 Parte 3

Narração: Com todas estas mudanças de versões e contradições, não é de estranhar que a polícia portuguesa tenha questionado a versão dos McCanns desde o princípio. Nós vimos antes que os McCanns informaram que ao chegar ao apartamento, por volta das 22:00, a persiana estava levantada e as janelas estavam abertas. A janela, já agora, era de correr – você abre o fecho e depois uma janela desliza-se à frente da outra.

Se o raptor realmente tivesse usado a janela como via de saída, tinha sido sem dúvida um aperto fortíssimo para atravessá-la. Mas o que isto igualmente significa é que se realmente tivesse havido uma rajada de vento, como os McCanns afirmaram, teria soprado uma das cortinas. É mais uma indicação que a alegada cena do crime foi manipulada.

Além disso, quando a polícia examinou a moldura da janela para deteção de impressões digitais, apenas encontraram uma impressão digital – a impressão digital de Kate McCann. Vamos examinar mais um ou dois aspetos das afirmações feitas pelos McCanns sobre o estado do quarto das crianças quando o encontraram naquela noite. Primeiro, eles disseram à polícia que a porta do quarto das crianças estava completamente aberta, mas quando perguntaram à Kate McCann sobre isto na televisão, esta versão alterou para “a porta estava um pouco mais aberta do que a tínhamos deixado”. Tal como discutimos antes, esta afirmação é absurda, pois duas outras pessoas tinham alegadamente verificado as crianças durante a noite. Portanto, de qualquer forma, os McCanns não podiam ter sabido o quanto aberta a porta tinha sido deixada. No seu livro sobre o caso “Madeleine”, Kate disse: “A porta estava bastante aberta”. Na sua entrevista de maio de 2009, acerca da porta fechando à força por uma rajada de vento, Kate McCann disse isto…

Kate McCann: A porta do quarto onde as três crianças dormiam estava muito mais aberta do que a tínhamos deixado. Eu fui fechá-la, mais ou menos até aqui, e assim que chegou aqui, bateu repentinamente. E assim que eu a abri, foi quando pensei dar uma vista de olhos às crianças.

Narração: Esta foi como ela contou a história à CNN.

Kate McCann: Eu reparei que a porta do quarto das crianças estava bastante aberta e nós sempre a deixamos ligeiramente entreaberta, apenas para deixar entrar um pouco de luz. E pensei para mim mesma, “Será que Matt deixou a porta aberta às 21:30?”, porque Matt verificou às 21:30. E pensei “talvez foi isso que aconteceu”, portanto fui fechar a porta das crianças e quando estava prestes a fazê-lo, de certa forma a porta fechou-se com força, como se uma corrente de ar a tivesse fechado.

Narração: A mesma história está no livro dela, na página 71. “Depois eu reparei que a porta do quarto das crianças estava bastante aberta, não como a tínhamos deixado. Inicialmente, eu pressupus que Matt devia a ter movido. Eu aproximei-me e comecei a puxá-la gentilmente. De repente, fechou-se com força, como se tivesse sido apanhada por uma corrente de ar”. Nós aqui apercebemo-nos, para começar, uma adaptação inteligente. O absurdo da porta ter sido encontrada “muito mais aberta do que a tínhamos deixado” é alterado. Agora, ela afirma: primeiro, eu presumi que Matt – um amigo médico deles – tinha a movido. Demorou quatro anos para ela acrescentar este detalhe à sua história. Um ponto vital a ter em conta aqui é que as afirmações sobre a corrente de ar e a porta a bater com força não estavam em nenhuma das declarações originais dos McCanns. Estas afirmações foram acrescentadas por eles, meses depois. Esta história da suposta rajada de vento, as cortinas voando para dentro e a porta a fechar-se com força, estava agora altamente destacada num documentário emitido por “Channel 4”, a maio de 2009, e em reconstituições posteriores, documentários e entrevistas televisivas.

As fotografias tiradas pela polícia portuguesa mostram claramente que as cortinas estão penduradas e firmemente seguradas, uma encostada à parede e debaixo da cama e a outra atrás da cadeira de braços. As dobras em cada cortina estão claramente achatadas contra a parede da mobília. Isto não podia ter acontecido devido a uma alegada rajada de vento. As cortinas têm o aspeto de terem sido colocadas deliberadamente nessa posição. E isso é exatamente o que os principais investigadores portugueses decidiram. Eles disseram que a suposta cena do crime tinha sido forjada.

Agora, vamos dar uma vista de olhos ao primeiro depoimento de Kate McCann, prestado na sexta-feira de 4 de maio, o dia após reportar o desaparecimento de Madeleine. O depoimento diz: “[Kate] entrou no apartamento pela porta lateral que estava fechada, mas destrancada conforme detrás dito e verificou desde logo que a porta do quarto dos filhos estava completamente aberta, a janela também aberta, as persianas subidas e as cortinas afastadas, quando tem a certeza de ter fechado tudo, o que sempre fez”.

Mas as fotografias do quarto das crianças, tiradas após a polícia chegar ao local, mostram as janelas fechadas. Elas são do tipo que tranca automaticamente quando elas se fecham e necessita de um dedo inserido no centro do mecanismo preto para abrir o fecho. Elas também mostram as persianas numa posição quase fechada. As fotografias também mostram as cortinas semifechadas, com a cortina esquerda um pouco mais fechada do que a direita. Vemos imediatamente como isto entra em conflito com as afirmações de Kate, de que as persianas, janela e cortinas estavam completamente abertas. No segundo depoimento de Gerry, prestado a 10 de maio, ele descreve que encontrou a janela “para um dos lados, os estores subidos, quase na totalidade, os cortinados afastados”. Novamente, podemos ver que a afirmação de Gerry de que as persianas, janela e cortinas estavam todas completamente abertas entra em conflito com o estado destes objetos quando a polícia portuguesa chegou.

No dia 6 de setembro de 2007, um dia antes de ela ter sido constituída suspeita formal pela polícia portuguesa, Kate respondeu às perguntas até ao momento em que a polícia disse-lhe que agora queriam interroga-la mais concretamente sobre os acontecimentos do dia 3 de maio. A partir deste momento, Kate McCann exerceu imediatamente o seu direito legal de permanecer em silêncio e não disse mais nada de interesse probatório. Resumindo, nas declarações iniciais dos McCanns, eles descreveram os cortinados como afastados ou completamente abertos, mas nas fotografias pertencentes à polícia, apenas estão semiabertos. Além disso, como já vimos, a janela é de correr, portanto pode ser aberta uma metade, uma delas deslizando à frente da outra. Portanto, uma rajada de vento apenas perturbaria uma cortina, não ambas. Agora examinaremos a história sobre a porta do quarto das crianças. No seu depoimento de 4 de maio, que mais tarde foi confirmado pelo Gerry, Kate McCann afirma que a porta do quarto das crianças estava completamente aberta. Mas meses depois, eles contam uma história diferente aos jornalistas. Agora dizem que a porta “estava um pouco mais aberta do que a tínhamos deixado”. É interessante notar que se nós levarmos estas palavras a sério, Kate está basicamente a dizer que não tinha a intenção de observar o quarto das crianças, até notar que a porta estava mais aberta do que a tinham deixado. 

Não é de estranhar, quando consideramos este cenário, que a equipa de investigadores portugueses pensava que havia sinais óbvios de que a cena do quarto das crianças tinha sido forjada. Se observarmos as fotografias da polícia, vemos que a cama onde a Madeleine supostamente dormia parece limpa e arrumada, com a esquina ordenadamente puxada para baixo. Não parece ser uma cama em que alguém tenha dormido nela, ou uma da qual uma criança tenha sido imediatamente arrancada. Se observarmos as cortinas, parece como se alguém as tivesse colocado entre o espaço que existe entre a cama e a parede, movendo primeiro a cama, colocando a cortina e empurrando a cama novamente contra a cortina. Aliás, embora Kate afirme que as cortinas voaram para dentro e abriram-se, nas fotografias, claramente não estão. Nem a rajada do vento nem o bater da porta foram inicialmente comentados por Kate ou por Gerry McCann. Porque é que estas afirmações apenas foram suscitadas em 2009, quase dois anos após o desaparecimento de Madeleine ter sido reportado?

Por último, como é que estava o tempo naquela noite? Havia rajadas de vento como Kate McCann afirmou? Parece pouco provável. Nós demos uma vista de olhos aos registos meteorológicos disponíveis naquela noite. Era uma noite fresca com uma ligeira brisa. Perto do aeroporto de Faro, a velocidade máxima do vento era uma leve força de grau 3. Às 22:00, o aeroporto de Faro registou uma velocidade do vento de apenas 14 km/h. Não parece ser suficientemente forte para fechar uma porta à força ou soprar uma cortina que é encontrada presa detrás de uma cama. Existe, sim, um aspeto bastante curioso sobre o tempo naquela noite. Vários amigos dos McCanns comentaram o quanto frio estava. De facto, entre as 21:00 e as 22:00, quando o suposto rapto ocorreu, a temperatura exterior era por volta de 13º C, ou seja, 55º F. Você precisaria de estar agasalhado no exterior. 

Um dos seus amigos, Jane Tanner, comentou especificamente o quanto frio estava e como ela necessitava de um casaco para sair, assim ela afirmou, para verificar as filhas delas. No entanto, estranhamente, Gerry McCann afirma nas suas declarações, que era uma noite quente. Daqui a um momento, veremos algumas declarações feitas sobre o tempo naquela noite, mas antes vamos estudar outra contradição neste caso, que já está repleto de mudanças de versões e contradições. No seu livro, Kate McCann descreve como ela e Gerry deixaram as crianças quando saíram para o bar Tapas, para reunirem-se com os seus amigos.

“Eu levei-os todos para o quarto deles. Madeleine deitou-se na sua cama e depois Amelie, Sean e eu sentámo-nos em cima, com as nossas costas viradas contra a parede, para contar a nossa história final… Depois nós beijamos os gêmeos, e beijamos a Madeleine, que já estava aconchegada com o seu cobertor de “princesa” e “Cuddle Cat” – um peluche que lhe ofereceram pouco depois de ela nascer e que acompanhou-a sempre quando ela ia para a cama”. “Aconchegar” claramente lhe faz pensar numa imagem de uma criança tapada com os lençóis e cobertores, sentindo-se quente e confortável. Você aconchega-se dentro ou abaixo de algo, mas uma página mais adiante, Kate descreve: “Gerry saiu para efetuar a sua primeira vigilância justamente antes das 21:05 a partir do seu relógio… [ele encontrou] Madeleine deitada lá, sobre o seu lado esquerdo, as pernas dela debaixo dos cobertores, exatamente na mesma posição em que a tínhamos deixado”. Portanto, quando eles saíram, Madeleine estava a dormir “aconchegada”, assim como eles a deixaram. Gerry agora diz que a encontrou a dormir “exatamente na mesma posição em que a deixámos”. 

Mas o que é que o Gerry diz? Agora diz que Madeleine estava em cima da cama, apenas com as suas pernas tapadas. Deitada sobre a cama com as suas pernas debaixo dos cobertores não pode ser descrita como “aconchegada”. Ainda mais estranho, se nós voltarmos a ver a segunda declaração de Gerry prestada à polícia, no dia 10 de maio de 2007: “ (…) relativamente à cama onde a sua filha se encontrava na noite em que desapareceu, refere que essa dormiu destapada, como era habitual quando estava calor, com a roupa dobrada para baixo”. Até mesmo dias após o desaparecimento de Madeleine, ele diz à polícia portuguesa que dormia em cima da cama porque era bastante quente. Contudo, quando Kate McCann publicou o seu livro quatro anos depois, ela conta-nos que [Madeleine] encontrava-se aconchegada na sua cama, quando deixaram as crianças e dirigiram-se para o seu jantar no bar Tapas.

Nós vimos que a temperatura entre as 20:00 e as 21:00 naquela noite era por volta de 13º C. Que outras observações os McCanns e os seus amigos fizeram sobre o tempo naquela noite? Na página 73 do seu livro: “Era bastante frio e ventoso”. A sua amiga, Jane Tanner, ao referir-se à pessoa que ela diz que viu naquela noite a transportar uma criança, ela afirma: 

Jane Tanner: Eu simplesmente pensei, 'aquela criança não tem sapatos calçados', pois conseguia-se ver os pés, e era uma noite bastante fria. Em Portugal, no mês de maio, não é muito quente, e eu levava um casaco e pensei, sabe, 'esse pai não está particularmente preparado, ao não abriga-la'. 

Narração: Na realidade, estava bastante frio. Em abril de 2008, Jane Tanner foi entrevistada novamente em Inglaterra, pela polícia de Leicestershire. Nessa entrevista, perguntaram-lhe novamente sobre o tempo naquela noite. Ela disse: “Sim, e havia algumas pessoas dentro porque estava bastante frio… era na verdade bastante, bastante frio… eu lembro-me que eu vestia, porque estava frio, eu tinha o casaco enorme de Russell, calças curtas e tongs e, e sim, era bastante, sabe, uma espécie de frio… eu julguei que a criança poderia estar com frio… essa foi uma razão pela qual nós não abrimos as persianas para abrir a janela ou algo qualquer naquele quarto, não era quente na verdade, estava bastante nublado durante os dias e bastante frio durante as noites”. Se havia qualquer dúvida sobre o frio que estava naquela noite, e com certeza no resto da semana, o amigo dos McCanns, o Dr. Russell O’Brien disse: “As noites eram bastante frias”. Outro amigo, o Dr. Matthew Oldfield, disse: “Durante as noites, era muito frio”. A sua mulher, Rachel Oldfield, disse: “Era bastante frio durante a noite”. Outro amigo, o Dr. David Payne, disse: “Era bastante frio em algumas noites e, sabe, talvez demasiado frio para se estar de fora”. Agora, veja a declaração da sua mulher, Fiona Payne: “Continuava bastante frio”. A mãe de Fiona Payne, a avó Dianne Webster, também foi de férias com o grupo, e notou que “quando trouxeram as crianças ao nosso apartamento, teriam que sair, com o frio que estava”. Porque é que, entre o seu grupo de amigos, Gerry McCann insiste em dizer que estava quente, tanto até que Madeleine estava deitada sobre os cobertores naquela noite? Será que foi pelo facto das fotografias da polícia mostrarem uma cama com poucos sinais de que alguém tenha dormido nela, durante a noite de 3 de maio? Foi isso que ele não conseguia explicar? 

Quando Kate McCann foi chamada para interrogatório no dia 7 de setembro de 2007, apenas quatro meses após o desaparecimento de Madeleine, a primeira pergunta que lhe fizeram foi esta: “No dia 3 de maio de 2007, às 22:00, quando entrou no apartamento, o que é que você viu? O que é que fez? Onde é que procurou? O que é que manuseou?”. Ela teve uma oportunidade de ouro para contar à polícia o que ela viu e fez, mas em vez disso, ela exerceu o seu direito de não comentar. Fizeram-lhe mais 47 perguntas. Ela respondeu a todas elas, “não comento”. A última questão que lhe foi colocada foi: “Você tem consciência de que o facto de não responder a estas perguntas põe em causa a investigação, a qual procura saber o que se passou com a sua filha?”. Kate McCann respondeu a esta. Ela respondeu: “Sim, se isso é o que a investigação pensa”. Depois deste interrogatório infrutífero, a polícia portuguesa constituiu Kate arguida, “suspeita”. 

Três dias após esse interrogatório, o inspetor-chefe do Sr. Gonçalo Amaral, Tavares de Almeida, publicou um relatório preliminar detalhado, o qual não hesitou nas palavras. Este relatório foi muito claro em sugerir que Madeleine tinha morrido no apartamento dos pais dela, e que os pais tinham encoberto a verdade, e que conspiraram para esconder o corpo. Escrevendo sobre a alegada cena do crime, ele declarou: “Há fortes indícios de que a cena do crime foi alterada, e alguns móveis foram mudados de lugar. Essas mudanças são indicações de que o rapto foi uma simulação orquestrada”. Ele também tinha algo a dizer sobre as constantes mudanças de versões, contradições e adaptações da narrativa. Numa secção intitulada “Os McCanns evoluíram a sua história de forma a adaptá-la às perguntas da polícia”, ele escreveu: “A atenção mediática que foi dada ao caso e a busca da informação pelos mencionados meios levou a uma evolução das declarações dos pais de Madeleine. Toda a informação que se tornou pública tem contribuído para que os McCanns reconstruam e adaptem a sua história de forma a encaixar eventuais perguntas da polícia. Eles têm tentado explicar as provas forenses que nós recolhemos e estamos a recolher”.

Gerry McCann: Nós tínhamos objetivos muito claros daquilo que queríamos e qualquer pai ou mãe aproveitaria a oportunidade de tentar conseguir informação para a investigação. Não há provas que Madeleine esteja morta e não há provas que nos implique na morte dela.

Legenda: “na morte dela”?

Gerry McCann: Tudo o que nós fizemos durante os últimos 100 dias está centrado… na crença que Madeleine estava viva quando ela foi raptada…

Legenda: “na crença”?

Sandra Felgueiras: Naquela noite, vocês deram aos vossos filhos algo como Calpol para os ajudar a dormir?

Gerry McCann: Não vamos comentar nada, mas nunca usámos qualquer sedativo, ou algo do género.

Entrevistadora: Como é que se sentem agora que o livro do Amaral vai estar nas livrarias aqui?

Gerry McCann: Sim, bem, sabe, já tem sido mencionado a qualquer pessoa que queira convencer os outros que Madeleine está morta, sem provas que corrobore…

Entrevistadora: Podem pôr as pessoas a par da situação em que estão agora? Têm alguma pista nova? O que está a ocorrer na vossa investigação?

Gerry McCann: Bem, eu gostaria de dizer-lhe que temos sim algumas pistas muito fiáveis, mas, quero dizer…

Entrevistador: Quando vocês souberam que a polícia tinha descoberto sangue no apartamento, como reagiram?

Gerry McCann: Sabe que mais... tudo isto é sobre a investigação, e o que têm de fazer é falar com a polícia. Todas as vossas perguntas são sobre a investigação e nós não podemos comentar esses assuntos.

Justine McGuiness (?): Gerry, senta-te…

Gerry McCann: Nós não podemos responder a perguntas deste género.

Justine McGuiness (?): Eles querem que tu digas que apenas se trata de especulações...

Narração: No próximo filme, nós iremos ver mais contradições, e também o trabalho de dois cães farejadores.