Advogado de Kate e Gerry
admite que família se constitua assistente no inquérito.
Mariana Oliveira e Pedro
Sales Dias - 24.10.2013
Os pais de Madeleine
McCann, Kate e Gerry, estiveram em Portugal a semana passada
convocados informalmente pela Polícia Judiciária (PJ) que os
informou dos planos para reabrir a investigação, um pedido que o
Ministério Púbico (MP) anunciou esta quinta-feira ter aceite.
O encontro ocorreu na
passada quinta-feira, dia 17, no final de uma reunião com os
inspectores da Scotland Yard que também estão a investigar o
desaparecimento da menina inglesa, enquanto passava férias com a
família na Praia de Luz, no Algarve, em Maio de 2007.
A informação consta de
um comunicado divulgado esta quinta-feira pela Polícia Metropolitana
de Londres e confirmada por fonte da direcção nacional PJ, que
precisou que o encontro ocorreu na sede daquela polícia, em Lisboa.
O advogado do casal McCann, Rogério Alves, confirma que os clientes
foram informados do pedido de reabertura do inquérito. “Isto
significa que a polícia entende que há caminhos novos que podem ser
explorados. E isso provocou nos pais uma expectativa legítima que
não só seja descoberta a verdade como seja possível descobrir a
Madeleine com vida, o que é o único objectivo deste esforço que
têm vindo a empreender”, afirma o advogado.
Rogério Alves acrescenta
que os pais de Madeleine estão a ponderar constituir-se assistentes
no processo, “já que esta linha de investigação excluiu qualquer
responsabilidade dos próprios quanto ao crime que estará na base do
desaparecimento da Madeleine”.
Em comunicado, citado
pelos media ingleses, o casal McCann manifestou-se esta quinta-feira
“muito satisfeito” com reabertura do inquérito em
Portugal.“Esperamos que isto possa finalmente conduzir a que ela
seja encontrada e à descoberta de quem quer que seja o responsável
por este crime”, afirmaram.
Kate e Gerry McCann
voltam a apelar ao público para transmitir informações relevantes
à polícia, mas pedem “respeito” pelas investigações. “Por
favor sejam pacientes e respeitem o trabalho da polícia enquanto
esta procura encontrar as respostas que nós tão desesperadamente
precisamos", sublinham. Apelaram ainda à comunicação social
para no seu trabalho “ter em consideração a segurança de
Madeleine e a integridade da investigação”.
Numa nota, a
Procuradoria-Geral da República (PGR) adianta que a reabertura foi
determinada “na sequência de proposta da Polícia Judiciária, e
atendendo à apresentação de novos elementos indiciários que
justificam o prosseguimento da investigação”.
O inquérito vai
continuar a correr na Procuradoria da República de Portimão, que,
segundo a nota, requereu ao juiz de instrução que o inquérito
fique sujeito ao segredo de justiça.
O PÚBLICO noticiou na
edição impressa desta quinta-feira que as autoridades portuguesas
ponderavam a reabertura do caso. O pedido da PJ foi resultado do
trabalho de mais de dois anos de reanálise do processo levado a cabo
por uma equipa da PJ do Porto, criada em Março de 2011. Um grupo de
quatro inspectores liderados pela coordenadora de investigação
Helena Monteiro – que nunca havia contactado com o inquérito,
evitando assim qualquer contaminação na apreciação – terá
identificado testemunhas que nunca foram inquiridas enquanto o
processo esteve a decorrer, até Julho de 2008.
Isso mesmo é confirmado
num comunicado divulgado esta quinta-feira pela PJ. “Esse trabalho
de reanálise, que decorreu durante os últimos dois anos e meio,
permitiu conhecer novos indícios que, impondo a continuação da
investigação, preenchem os requisitos (...) para a reabertura do
inquérito”, lê-se na nota. A PJ adianta que, à semelhança do
que sucede com todos os casos de crianças desaparecidas, apesar do
arquivamento formal do inquérito, “continuou a estar atenta a toda
e qualquer informação susceptível de permitir conhecer o paradeiro
da menor Madeleine McCann, as circunstâncias em que ocorreu o seu
desaparecimento e a identidade do(s) seu(s) autor(es)”.
Investigação centrada
na tese do rapto
O PÚBLICO sabe que os
elementos da PJ do Porto já se deslocaram várias vezes ao Algarve,
para recolher elementos e realizar diligências informais, que
permitirão sustentar a necessidade de reabrir o caso. A reabertura
do inquérito é a única forma de que a PJ dispõe para inquirir
formalmente essas testemunhas.
A reanálise do processo
volta a centrar a investigação na tese de rapto, a principal linha
seguida pela Scotland Yard, que também abriu uma investigação ao
desaparecimento de Maddie. A equipa da PJ do Porto terá ficado
convicta dessa tese perante a observação cuidada de toda a
informação existente no processo.
Fonte da PJ fez questão
de realçar ao PÚBLICO que o pedido de reabertura do processo
resulta exclusivamente do trabalho da equipa do Porto e não de
elementos recolhidos pela Scotland Yard, que também abriu uma
investigação ao desaparecimento de Maddie. Esse trabalho também
não se confunde com o de outra equipa de seis inspectores da
delegação da PJ de Faro que está há mais de um mês a realizar as
diligências solicitadas pelas autoridades britânicas, no âmbito de
um pedido de cooperação internacional. A direcção nacional da PJ
recusa-se a adiantar pormenores sobre os novos indícios recolhidos e
até sobre quem ficará responsável pela investigação, tentando
resguardar o trabalho dos inspectores.
A polícia inglesa
confirma, na sua nota, que a linha de investigação seguida pelos
portugueses é distinta da que está a ser explorada pela Scotland
Yard. “A pedido da Polícia Judiciária, Mark Rowley e Andy
Redwood participaram numa reunião com responsáveis daquela polícia
a 17 de Outubro, em Lisboa, para discutir os desenvolvimentos
significativos da investigação e transmitir-lhes informação
detalhada sobre as novas linhas do inquérito, que, nesta altura, são
distintas das que estão a ser exploradas pela polícia
metropolitana”, lê-se no comunicado.
A Scotland Yard adianta
que as suas investigações decorrerão em paralelo e que “num
futuro breve” os inspectores da polícia metropolitana virão
regularmente a Portugal, para acompanhar os desenvolvimentos das
diligência solicitadas no âmbito do pedido de cooperação
internacional.
“Isto é um
desenvolvimento relevante, mas ambas as investigações estão em
fase relativamente inicial, havendo muito trabalho por fazer. Este
progresso é encorajador mas ainda temos um caminho a percorrer e
como em todas as grandes investigações nem sempre as linhas de
investigação mais promissoras produzem resultados”, afirma Mark
Rowley, citado na nota.
O responsável da polícia
metropolitana agradece ao público europeu a resposta ao apelo feito
a semana passada e diz que a relação com a PJ está cada vez mais
próxima. “Acredito que estamos perante a melhor oportunidade para
finalmente perceber o que aconteceu a Madeleine”, remata.
Pais da Maddie não
querem criar “expectativas”
Um representante dos pais
de Maddie, Kate e Gerry McCann, já comentou a reabertura do
inquérito ao desaparecimento da menina inglesa pela PGR. “Kate e
Gerry não querem criar demasiadas expectativas, mas, se a polícia
portuguesa quer reabrir a investigação, isso é um desenvolvimento
significativo e um passo muito importante”, disse esta quinta-feira
ao Daily Express.
Na quarta-feira, o
comissário superior e chefe da Polícia Metropolitana de Londres,
Bernard Hogan-Howe, defendeu a forma como a polícia portuguesa
desenvolveu a investigação inicial ao desaparecimento. O comissário
admitiu que seria “muito difícil” para os investigadores da PJ
que estiveram momentos depois do alerta do desaparecimento na Praia
da Luz saber que tipo de crime estava em causa.
“É muito difícil
lidar com estas coisas logo de início quando não sabemos se a
criança apenas se afastou [do local onde a tinham deixado]. É muito
difícil perceber se foi isso ou se ocorreu mesmo um crime”, disse
Hogan-Howe em declarações à radio LBC, citadas pelo jornal The
Scotsman.
O comissário disse
acreditar que a investigação inicial tenha sido “um verdadeiro
desafio” para a PJ. “Qualquer pessoa pode voltar atrás e dizer
'por que não fizeram isto?'”, aludiu, sublinhando, contudo, que
“isso é fácil de dizer”.
“Não gostamos quando
dizem isso da Polícia Metropolitana de Londres, por isso não vamos
dizer o mesmo dos polícias portugueses”, defendeu acreditando que
“agora existe” a “melhor oportunidade” de descobrir, num
trabalho conjunto entre as duas polícias, o que “realmente
aconteceu” no âmbito desta “terrível tragédia”.