C'est
en raison du manque de soutien de sa hiérarchie à qui n'a pu
échapper le lynchage médiatique de la PJ et de sa personne en
particulier et du besoin de ne pas laisser impunément salir son nom
que le commissaire Gonçalo Amaral a donné sa démission et écrit
"L'enquête interdite". Il explique cela clairement dans la
préface. Si les médias britanniques, mais pas seulement, n'avaient pas crié haro
sur le baudet, il n'aurait peut-être jamais écrit de livre.
Traduction - extrait par Astro
original de João
Fernandes Figueira - 03.07.2008
Well,
approximately one year ago, we all watched, stupefied, a sort of
spectacle that had until then been unheard of, among us. Like in the
witch hunts of the past, a certain media (mainly English, but
unfortunately not only that) destroyed a Man from the Portuguese
Polícia Judiciária in public. A high-ranking Criminal Investigation
career official. A colleague and a friend to so many of us. A
character assassination like no other employee of this House had ever
been a victim of, before. And why?
Because,
as had always been his hallmark, Dr. Gonçalo Amaral, a Polícia
Judiciária Criminal Investigation Coordinator, went to fight,
committed himself, faced, bravely and decidedly, the difficulties and
the setbacks of a service case that is extremely complex and whose
outlines are still undefined, and may remain so forever.
Maybe
for the first time in the Polícia Judiciária's History, an
investigator is exposed in public and his private life is rummaged.
Merely because he was investigating a certain suspicious case.
Because he was working. Maybe the Portuguese State, the Public
Administration, our Polícia Judiciária, should have mechanisms in
place to protect its representatives in situations like this one. In
order to safeguard them as they carry out their professional activity
for the benefit of Public Service. Maybe all of us, colleagues in
profession, should have stood up, and honouring the so famous, so
traditional and so bandied about "Esprit de Corps" that
they say is characteristic of our "House", should have
somehow manifested our support of Dr. Gonçalo Amaral.
None
of that happened. Gonçalo was alone.
Quando,
em fins de 1983 (já lá vão cerca de 25 anos) eu e alguns colegas,
concluído o curso de formação na Escola, fomos colocados no Núcleo
de Estágio a funcionar na então S.C.I.T.E./C.I.C.D., instalada ao
fundo da Rua Conde de Redondo, ali fomos encontrar um grupo de
investigadores policiais cujas características, individuais e de
grupo, e a forma de trabalhar, nos levou (pelo menos à maior parte
de nós) a ali querer ser definitivamente colocados.
De
facto, a motivação e a dedicação ao serviço, o entusiasmo e
alegria com que desempenhavam as suas funções, a competência e o
profissionalismo que demonstravam foram, para nós, recém formados
na Escola do Barro, a certeza de que a profissão que então
iniciávamos se traduzia numa actividade plena de realização e numa
carreira magnífica e com um futuro radioso.
Grande
parte desses colegas eram sensivelmente da nossa idade, pouco mais
antigos que nós, do curso imediatamente anterior e, assim, com o
respectivo estágio recentemente terminado.
Entre
eles estava o Gonçalo Amaral. Talvez com mais cabelo que agora e,
eventualmente, um pouco menos pesado. No resto, era igual. Já na
altura nos surpreendia a sua entrega à profissão, a competência
que demonstrava, a segurança com que trabalhava, a coragem com que
ia a todo o lado e enfrentava todo o tipo de situações e de
adversários. Da mesma forma, era notória a boa disposição com que
enfrentava as contrariedades e as adversidades da função, bem como
a tolerância com que encarava as brincadeiras, às vezes
irreverentes de um ou outro colega (e eu que o diga, que a
consciência me acusa de o ter sido, não poucas vezes).
Posteriormente
o Gonçalo viria a trabalhar em Faro e em Ponta Delgada. Sempre com a
disponibilidade pessoal e a capacidade profissional que lhe são
características. E em todas as inúmeras valências que revestem
hoje o trabalho de um investigador da Polícia Judiciária.
Investigando homicídios ou recolhendo informações sobre redes
criminosas organizadas. Analisando documentação relativa a
complexas movimentações financeiras ou capturando indivíduos
perigosos. Sem fugir ás dificuldades nem esmorecer face às
contrariedades. Dando a cara e indo à luta. Sempre.
De novo
em Lisboa e no combate ao tráfico de droga, foi o Gonçalo nomeado,
ainda como Agente, para chefiar uma Brigada de Investigação na
D.C.I.T.E. Quem estava, nessa altura, nesse departamento, lembra-se
que os resultados conseguidos por essa Brigada, sob a chefia
carismática do Gonçalo Amaral, logo ultrapassaram a média das
estatísticas. Os números conseguidos por si e pelos seus homens,
quer quanto a indivíduos detidos, quer quanto a produto
estupefaciente ou aos bens e valores apreendidos, quer, mesmo a
condenações conseguidas em Tribunal marcaram uma época na
D.C.I.T.E. e constituíram um exemplo.
Eu sei.
Lembro-me bem. Estava lá.
Acumularia
a chefia da Brigada com a condição de aluno universitário. E a sua
forma característica de chefiar, sempre directa e frontal, num
estilo de liderança permanente e plenamente assumido, sempre
presente e sempre disponível, não o impossibilitou de, no mais
curto espaço de tempo permitido, se licenciar em Direito. Não
obstante a sua formação anterior ser de Engenharia.
Voltámos
a encontrar-nos no curso de promoção a Subinspector. Uma vez mais o
Gonçalo deu mostras da sua notável capacidade de trabalho, pois que
fez este curso, intensivo e exigente, em acumulação com a chefia da
Brigada de Investigação. Patente ficou, também e uma vez mais, a
sua significativa capacidade de estudo, tendo concluído o curso em
primeiro lugar entre 99 colegas.
Viria,
posteriormente e na sequência lógica e natural da sua carreira
profissional e do seu percurso de vida, a concorrer a Coordenador de
Investigação Criminal e, como era de esperar, era promovido àquela
categoria funcional pouco tempo depois.
Depois…
Bem, há
cerca de um ano, todos nós assistimos, estupefactos, a uma espécie
de espectáculo até então inédito entre nós. Como nos Autos de Fé
do passado, certa comunicação social (principalmente inglesa, mas
infelizmente não só essa) “derreteu” na praça pública um
Homem da Polícia Judiciária portuguesa. Quadro superior da carreira
de Investigação Criminal. Colega nosso e amigo de muitos de nós.
Um assassínio de carácter como nenhum outro funcionário desta Casa
tinha sido vítima até então. E porquê?
Porque,
como sempre foi seu apanágio, o Dr. Gonçalo Amaral, Coordenador de
Investigação Criminal da Polícia Judiciária, foi à luta,
empenhou-se, assumiu, enfrentou, corajosa e decididamente, as
dificuldades e as contrariedades de um caso de serviço muitíssimo
complexo e de contornos ainda, e quiçá para sempre, indefinidos.
Talvez
pela primeira vez na História da Polícia Judiciária, um
investigador é exposto na praça pública e a sua vida privada
devassada. Apenas por estar a investigar um determinado caso
suspeito. Por estar a trabalhar. Talvez o Estado Português, a
Administração Pública, a nossa Polícia Judiciária, devessem ter
mecanismos para proteger os seus representantes em situações como
esta. Para os resguardar no exercício da sua actividade profissional
em proveito do Serviço Público. Talvez todos nós, colegas de
profissão, nos devêssemos ter assumido e, fazendo jus ao famoso,
tradicional e tão apregoado “Espírito de Corpo” que dizem
característico da nossa “Casa”, nos devêssemos ter, de alguma
forma, manifestado em apoio do Dr. Gonçalo Amaral.
Nada
disso aconteceu. O Gonçalo ficou sozinho.
Se esta
estratégia pegar, amanhã, face a arguidos poderosos e bem
relacionados, poderão ser outros investigadores a sofrerem na pele
esta provação. Poderá ser qualquer um de nós. E isso pode, de
alguma forma, significar o fim da investigação criminal. Pelo menos
da maneira como nós a encaramos e a desenvolvemos.
Que
este caso nos sirva de reflexão. E de exemplo. E nos permita criar
formas de evitar que se repita. A própria ASFICPJ deveria, talvez,
analisar, séria, conscienciosa e exaustivamente, e de forma serena e
construtiva, toda esta situação. É, também, sua obrigação.
Amigo Gonçalo, lamento sinceramente a tua saída da Polícia Judiciária, que me parece demasiado precoce porque admito que mais poderias dar à causa da Sociedade, da Justiça e do Serviço Público. A nossa “Casa”, para além disso, não dispõe de tantos recursos, em qualidade e quantidade, para se dar ao luxo de os não rentabilizar ou, pior ainda, de os deixar desperdiçar.
Resta-me,
face à realidade dos factos, agradecer a tua amizade e desejar-te as
maiores felicidades e os maiores sucessos na nova etapa da tua vida
que agora decidiste iniciar.
João
Fernandes Figueira
A.S.F.I.C./P.J.
member nr. 711